quarta-feira, 26 de novembro de 2008

É Rata


Não seria isso matéria da psicologia? Filosofia inclui? Sociologia? Para quem está perdido qualquer atalho é estrada...

Mais Filosofia e Desisto

O que causa mais um copo. Esse roçar de pernas pode significar. Essa moça em minha frente é bem gostosa. Prometo-lhe mandar a lista. Prometo lhe recomendar. Dar um livro de presente. Concluo que sou generoso porque desejo exercer poder sobre as pessoas que ajudo. Que estão na minha primeira infância as razões pelas quais sinto tesão por todas as mulheres gostosas. Que ser generoso com uma mulher gostosa me faz duplamente culpado. Que filosofia é coisa de maluco. Procuro outra mesa onde falam de futebol e peço ao garçom para trocar meu copo. Vamos ver agora a situação dos cinco primeiros colocados da primeira divisão...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Filósofo Eventual

A que me destino não me interesso. Como indivíduo. Descubro-me filósofo. Melhor que isso. Irmão do mundo. O negro e o japonês, o rico e o bobo. Relativismo. O grão insignificante, no areal. A gota indissolúvel e definitiva, amalgamada e nada, nos oceanos. Corte. Outra dimensão. Entre pares, entre filhos, entretantos. Prego a fluição e a fruição, livres e completos, como casca de noz em dia de enxurrada, pelas sarjetas. Prego a atenção aos sinais. Como duas castanhas, bebo um cálice de vinho tinto, dissolvo meu colesterol em banho-maria, colé, esterol?! Olho e entre todos todos me ouvem menos um, que sou o próprio. Não falo mais nada. Só mais um copo.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Peixe é Muito Bom!


Peixe é bom.
Gosto de peixe.
Adoro peixe.
Amo peixe.
Sou louco por peixe!

Por isso vivo a pescar...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

O GPS e A Chuva do Rio

(Drama que uma amiga me contou - em 17/11/2008, dia da chuva)


Tem dia que é. Hoje. Chove a cântaros no Rio. Anoitece. Continuo no local de trabalho esperando a chuva diminuir, depois a água baixar, depois o entupimento desentupir. Meu estresse é máximo. Dois dias antes descobri que minha filha apanhava do namorado. Fui conversar com o rapaz e com a sua mãe, e ele quase me agrediu. Indignada, levei minha filha, o namorado, a sogra, todo mundo para a delegacia, onde registramos queixa e cumprimos nosso papel de cidadãs. Só assim para colocar limites nessas situações.

Meu ex-marido não gostou que eu tomasse essa atitude. Isso, mais do que tudo, me deixou ultra-estressada. Nem consegui me alimentar direito. Mas logo, logo, estarei em casa, em Niterói, tomarei um bom banho, uma sopa, talvez um bom vinho e dormirei uma noite justa. A chuva diminuiu. Acho que dá para arriscar tomar a barca. O telefone toca. É o canalha me dizendo poucas e boas. Meu ex-marido, não o garoto. Exatamente quando mais preciso de apoio, o covarde vem com isso de não ser do seu estilo. Desligo furiosa. Minha indignação não tem limites. Ando alguns passos e as luzes do Rio se apagam. Todas, aos poucos. As sombras giram, tenho consciência que estou a pifar... Um senhor me ampara, até que eu me recupere.

Deve ser porque estou a tanto tempo sem comer. Vejo que não tenho condições de esperar a barca. Agradeço ao homem e pulo para dentro de um táxi. Alguma clínica, por favor! Mas como, minha senhora? Nesse engarrafamento não podemos ir a quase lugar nenhum! Oras, algum hospital, um hotel, qualquer lugar, qualquer um!

O táxi me leva ao Íbis num trajeto fantástico, de luzes rodopiando, miríades, sons desconexos, tudo entrando e saindo como ondas em minha cabeça. Pago o táxi e entro. Num hotel pelo menos terei algo, um certo conforto, um quarto, uma cama, um banheiro, posso tomar minha sopa com calma, me recuperar totalmente e ver o que faço depois. Mas é o Íbis. Subo ao apartamento e busco o cardápio. Uma bela sopa de legumes e macarrão! Disco o número da cozinha. Não servem no apartamento. Tento me levantar mas não consigo. Assusto-me com o meu estado. Num esforço, alcanço de novo o telefone e ligo para o primeiro numero que me vem à cabeça, logo para quem? Meu ex. Ele diz que sente muito mas nada pode fazer, e manda-me procurar um antigo namorado espanhol, de quem ele tem raiva mesmo sem conhecer. Disco ainda para uma amiga médica, mas com o Rio totalmente alagado ela diz que não pode sequer pensar em ir até onde estou. Sorry!

Respiro fundo, tento me mover. Agora vai. Lavo o rosto e dou um jeito no cabelo, desço pelo elevador e chego um minuto depois de terem fechado o restaurante. Ainda vejo terrinas fumegantes. Imploro que me deixem entrar, mas uma governanta alemã fecha a porta impiedosamente, fazendo ouvidos moucos aos meus pedidos de “pelo menos uma colher de macarrão, moça, por favor!”. É como um filme de terror. A cabeça gira novamente. Volto ao elevador, vejo a enorme fila de botões serpentear à minha frente, cada vez mais alto, cada vez mais alto... sou eu que desço até o piso, sem conseguir sequer falar. Um moço que está no elevador sentencia, em voz alta e esganiçada: Ela tem diabetes! Metem um cubo de açúcar em minha boca. Reajo, meio abobalhada, tentando me levantar. O homem volta com uma enorme barra de chocolate que engulo como uma esfomeada. O mundo parece se colorir aos poucos, cada vez mais, minha respiração regulariza-se, sinto um conforto raro até então. Sorrio, sem graça e agradeço, vou ao meu apartamento e recolho minhas coisas, pago a conta e entro no primeiro táxi.

Pela primeira vez na noite sinto-me segura. Niterói, por favor! O taxista é um negro enorme, pesando mais de 130 quilos. Coloca o cinto, liga o taxímetro em bandeira dois, liga uma fileira de botões, tecla algo num aparelho instalado à sua frente, no painel, e arranca. Voilá! Intrigada, pergunto o que é aquele aparelho. É um gepeésse, madame, custou quais dois mil real. Uma voz feminina, sinuosa, sensual, se faz ouvir dentro do carro: Você vai dobrar à direita, daqui a cem metros. Ele provavelmente sabe o que é direita e o que é esquerda, mas não tem a menor noção de quanto sejam os cem metros. Dobra uma esquina antes. A voz feminina agora parece impessoal e o recrimina, avisando que terá de recalcular o trajeto. Caralho! O cara não sabe como se vai daqui para Niterói! O cara tem um GPS e não sabe usar! É hoje! Segue a briga do taxista com o GPS enquanto nos embrenhamos cada vez mais por ruas menores, adjacentes, perigosas, e absolutamente desconhecidas para ele e para mim. O taxista parece absolutamente perdido, e está cada vez mais nervoso. Mexe no GPS, troca o destino, sei lá o que faz. Tento orientá-lo, sugerindo caminhos. O GPS também. Eu digo: agora pega à esquerda! Mas a voz sensual diz que ele deve seguir por duzentos metros antes de virar à direita. Ele não segue nenhuma coisa nem outra. Ficamos girando perigosamente. Começo a gritar. Ele aumenta o volume do GPS na mesma proporção. De negra, sua pele já está cinza. Sua preocupação me deixa alarmada. Ele começa a xingar. Encho os pulmões e grito, acima de qualquer outro som: pára essa merda, caralho! Desliga essa porra desse GPS! Aperta o botão, tira o fio, dá um murro nessa porra! Pára!!! Eu sei como se vai para Niterói!

Entramos numa avenida relativamente movimentada e ele desliga o GPS e pára o carro. Saio e dou a volta, sento-me ao seu lado e digo: você agora vai para onde eu mandar, ok? Ele nem vacila: sim senhora! Rapidamente chegamos à perimetral que leva à ponte e vejo-o suspirar de alívio. Ele então confessa que só conhece, do Rio, Jacarepaguá. Porra!

Meia-noite. A pista não tem movimento e ele enfia o pé. Cem por hora, cento e vinte, cento e cinqüenta, eu grito de novo: pára essa merda! Diminui! Cacete! Ele volta para cento e vinte, depois para cem, sempre perguntando se está bom. Agora é questão de tempo, mas não deveremos ter outros percalços. Finalmente relaxo. Vento frio no rosto, a sensação de que nos livramos de uma boa. De dentro de mim, bem lá de não sei de onde, vem uma onda a me torcer o corpo, uma onda leve, boa, uma vontade louca de gargalhar. Sinto o seu corpanzil estremecer, provavelmente lhe acontece o mesmo. E então começamos. Abro o vidro do meu lado. Hahahaha! Ele abre o seu. Haaa-Haaa-Haaa!!! E uma gargalhada provocando a outra, cada vez mais fortes, em perfeito sincronismo e num fenomenal desabafo, vamos deixando pelo caminho todos os motivos pelos quais não gargalhamos nos últimos momentos, horas, anos, dias...

Se você passou, pois, por uma perua amarela, grande, chevrolet, com um negrão enorme ao volante, vidros abertos e mulher com cara de desesperada ao lado, se ouviu os nossos guinchos no meio da quase madrugada, risos do demônio, gargalhadas do caramunhão, éramos nós!

Gil, era o seu nome, só parou de gargalhar quando chegamos à minha rua. Eu já não conseguia mais tirar som nenhum das minhas cordas vocais. Ele ainda se desculpou, verdadeiro gentleman, e quis cobrar menos que o taxímetro marcou. Deixou-me seu cartão, para que um dia desses pudéssemos tomar um café...

domingo, 16 de novembro de 2008

Gira-bomba



O garoto não deve ter mais que 12 anos. Monta um cavalo em pelo. Como se fosse um brinquedo, sem rédeas, sem nada, comanda o bicho com a pressão das pernas e algumas puxadas na crina. Vem buscar água de beber para o tio, que está no mato consertando cercas. É um garoto forte, de cabelos crespos e olhos desassossegados.

- Ontem entraram lá na casa do tio e roubaram as coisas dele...

Eu já soubera mas mostro-me interessado. Ele nem desmonta, apenas entrega a garrafa ao meu empregado e espera ali mesmo, defronte da porteira ainda fechada.

- Eu voltava para casa e vi a porta aberta, as coisas viradas de cabeça pra baixo, corri na casa da vizinha, mas ela estava com o diabo nas costas...

Nunca ouvi essa expressão antes. Agora interesso-me de verdade.

- Diabo nas costas?

- É. Estava com o diabo nas costas.

- Como assim?

- Ela estava no mato em frente à casa, rolando no chão e gargalhando.

- Oxe!

- Dizem que ela é gira-bomba. O marido e os filhos estavam segurando ela.

- Ela não estava bêbada?

- Faz tempo que ela não bebe, não senhor.

- Gira-bomba?

- É! Quer dizer, falam que ela é gira-bomba, essas pessoas que fazem esse negócio de macumba lá...

- Não seria pomba-gira?

- Não! É pomba nada, é macumbeira, ela! E estava com o diabo nas costas.

Pega a garrafa e faz o cavalo voltear, saindo em disparada na direção do mato fechado, onde o tio conserta a cerca e a pomba gira.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Canalhas e Cafajestes

Segundo Carpinejar, professor no assunto, poeta e escritor:

Cafajeste é o homem que trai, engana, mente, enrola as mulheres. Tem pouco caráter. Não respeita a companheira. Muitas vezes exerce a cafajestagem com tal competência e maestria que passa por pessoa decente e homem exemplar. Muitas mulheres gostam do tipo.

Canalha é um outro tipo, muito mais sofisticado. O canalha confessa. Logo de cara. Diz que tem outra, diz que não quer fazer ninguém sofrer, diz que lhe ama mas não pode assumir compromissos, diz que só tem outra por força das circunstâncias, e sendo sincero ao seu modo mantém relações paralelas por todo o tempo. Administra as diversas relações usando a sinceridade como principal arma.

Não sei se é melhor ser Cafa ou ser Cana.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Fugidia

vi teu sorriso, fugidio. como um raio. que me rachou ao meio. dedicou-me um medo misterioso que nos protege aos dois. como se um outro raio estivesse pendurado. pronto. sobre nossas cabeças. e o nosso amor fosse romper a corda. acorda, fugidia! o amor ajunta, cola, funde. o que divide é a ausência do presente, sem nenhuma noção.

bush ordenou guerras e subvencionou a economia americana. lula queria ordenar uma guerra ao butão, mas o comunicado foi parar no pelourinho, em salvador. e então preferiu-se fazer propaganda do pré-sal e da reforma aquária, coisa mais hilária, um barril de petróleo retirado das raízes das ameixeiras japonesas e custando quase cento e cinquenta dólares o barril. o rei de butão anda nu.

meu cachorro faleceu ontem pela manhã, numa prova inconteste de que preferia a liberdade da alma ao jugo das correntes. era um cão indomesticável. como um tamanduá. fica o meu respeito. já tinha a minha admiração.

ontem eu vinha andando pela rua quando vi um velho, mendigo e poeta, dedicando uma poesia muito obscena à bunda de uma mulher gorda que entrava e saía de uma farmácia, próxima ao lugar onde o dito poeta faz ponto. a parte obscena da poesia era um verso. bunda que se preze não perde homenagem à toa. enquanto ele falava num certo "cu gordo que me estima", a mulata rebolava sem atentar na rima, numa boa. seu sorriso maroto e contido tirava o constrangimento da cena.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Poesia

O Poeta, O Menino e O Capeta


Minha alma é buraco negro
Negro é belo, Bléquis Bíurifo
(é o cu!)
E minha parte Amy reina sobre tudo ali
Minha parte Amy bebe!
Argh!
Meninas incautas, não se apaixonem!
Paixões incautas são desastres.
E eu sou bad, bad, bad...

Depois não digam que nunca avisei!
Como é o seu nome? Menino.
E o nome dele? Cachorro.
O que vai fazer? Vou para casa.
Seus pais, quem são? Pai e Mãe.
E onde é a sua casa? Voute!

O Menino leva O Cão sem corrente.
Em casa os pais o esperam pacientemente.
E o almoço está na mesa, ainda quente.

Alguém é acusado de tudo. É O Capeta.

O Poeta, desconfiado, faz uma poesia diferente.

Isso não é poesia, é jost!

Minha tia chama-se Eva e meu tio nunca existiu.
Mas a rima Eva viu.
Chamou O Menino de poeta. E o cachorro.
O Capeta riu, riu e riu.
O Poeta, injustiçado, pensou, sem poesia nenhuma:
“O que é isso?? Puta que o pariu!!!”.

Ele era muito desconfiado.

E as cortinas se fecham deixando o público
Es tu

Fato!

Voute!!!

sábado, 25 de outubro de 2008

Tolerando o Intolerante

Faz tempo me interesso pela natureza das pessoas intolerantes. Tentar compreender faz parte do esforço para tentar tolerar. Já descartei a idéia de que são intolerantes apenas porque acharam espaço. Não mimá-los nem sempre evita que se tornem intolerantes. Mas tenho bons indícios de que a genética contribui. Sugiro que a tolerância com os intolerantes ajude a sua proliferação. Intolerantes gostam de vangloriar-se de ter o pavio curto. Queimam-se com facilidade. Ai do mundo que não estiver de acordo com o que eles desejam. Ai da pessoa que não concordar com suas vontades, seus momentos e suas idéias. Dos tolerantes nasceram muitas tragédias da humanidade. Não se deve, pois, deixar que um intolerante detenha poder. Quando dois intolerantes se encontram logo se afastam. Eles se reconhecem com facilidade. O grande problema é quando um intolerante se camufla. Fazem isso, às vezes, para conseguir o que querem. Muitas vezes conseguem. Em seguida, porém, com habilidade, põem para fora sua nata intolerância. Não raro com um refém ao lado. Intolerantes são intoleráveis. Por terem essa exata noção antecipam-se. Fecham portas, criam muros, nunca fazem pontes. Pode-se fazer o maior esforço para entendê-los, procurando tolerá-los, mas será sempre um esforço inútil. Num contexto com tolerantes e intolerantes coitados dos tolerantes. É muito muro e porta fechada. E dinamite para explodir as pontes.

Vegetariano

Ensaio

Sabe-se que todo mundo pensa em, um dia, começar uma dieta ultra-saudável apenas à base de vegetais. Seja para melhorar sua condição geral, seja para emagrecer, para se livrar de desconfortos atribuídos ao consumo de produtos animais, seja por muito ou por pouco tempo, seja de forma radical ou tolerante, todo mundo pensa ou pensou nisso um dia. Imagine uma enorme coincidência e...

Um dia, tipo amanhã, a humanidade acordará decidida a não mais consumir proteína animal. Nenhum grama.

Isso resultará num benefício enorme para a saúde humana.

Por outro lado deixará um problema que se desdobra em três: será necessário alimentar a população mundial apenas com a produção agrícola; os animais existentes precisarão ser alimentados idem, com a produção agrícola, o que criará uma situação de demanda muito maior exatamente quando a produção é insuficiente para a humanidade porque era apenas parte do total; coloca-se em risco o razoável equilíbrio que existe até aqui.

Os agricultores reclamam as áreas anteriormente utilizadas para a criação animal e um problema fundiário se estabelece. Os animais são um mico, só dá para acreditar em peixe e avestruz. Hortas invadem pastagens. Animais invadem as hortas. Homens se esforçam para deixar animais fora das hortas. A civilidade está em risco. Nas cidades as pessoas assistem a tudo pela televisão e sorriem. Engraçado ver homens e bois e porcos e aves e plantas disputando espaço. Lá longe...

Não há tecnologia para noventa por cento dos grãos fontes de proteína, e apenas três deles ocupam a maior parte das terras e das dietas das pessoas e dos outros animais. Toda a produção que depende de produtos animais e que não é para alimentação está paralisada. Procuram-se produtos substitutos para couro, ossos, chifres, bílis, cartilagens, pelos, cascos... O mundo parece um pouco desorganizado neste aspecto. Os animais deixados à solta procriam numa proporção acima do esperado.

Falta comida. Há animais demais e vegetais de menos. Desde o começo as pessoas relativizam as dietas incluindo peixes e frutos do mar. O camarão chega a 100 dólares, assim como o pirão de peixe. As algas faltam no mar, os cereais são insuficientes, trigo, soja e milho, começam a aparecer notícias sobre ossadas bovinas encontradas em valas rasas no coração do sertão. Um cientista argentino afirma que não há mais chances de recuperação dos estoques mundiais de alimentos. Um milionário russo estabelece novo recorde para o preço do tatu: mil dólares por cabeça.

Fim do Ensaio

domingo, 28 de setembro de 2008

Eu e o Presidente Lula




Lula está com a popularidade em alta porque se parece comigo, quando estou de barba. Tirei a barba por isso. Lula que se foda!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Buck no Ataque

 

Buck é ágil como um felino, rápido como uma flecha, branco como a neve, teimoso como uma mula, resistente como uma rocha e forte como um touro.

Uma porra dessas não pode ser um cachorro.

Aqui eu estava tirando uma foto dele.

Agora estou dando massagens no meu olho roxo.

Esse Buck é um filho de uma cadela!
Posted by Picasa

Os Gansos de Buck

 


Esses são alguns dos gansos (a mamãe gansa está ausente, chocando). O ganso cinzento é o único sobrevivente da ninhada de seis mais recente. Tem 45 dias. Mais um pouco muda as penas e fica branquinho que nem os pais.
Posted by Picasa

O Cão Chupando Manga

 


Este é Buck. Em pleno movimento. Como sempre.
Posted by Picasa

O Ganso e o Cão

 


Gosto de gansos. Belas aves, altivas, orgulhosas, atentas, vivem muito bem em grupo, defendem seu território com uma postura firme e agressiva e têm uma bravura fora do comum. Quando a mamãe gansa começa a chocar, eles mantêm um sistema de rodízio na sua proteção e mesmo depois de nascidos os primeiros gansinhos ela continua chocando pois as ninhadas saem em duas ou três etapas, aqui. Penso que todas as fêmeas em idade de reprodução botam em um só ninho e que há um revezamento no ato de chocar os ovos, mas aqui não consigo identificar os membros do grupo porque têm uma penugem praticamente igual - todos são brancos, sem manchas, e do mesmo tamanho.

Tenho um cão chamado Buck, um boxer, que adora todo tipo de animal e em especial os gansos. Da última ninhada, de seis gansinhos ele comeu três. O nosso pitbull chamado Branco comeu outros dois e hoje há apenas um sobrevivente.

Em outra ocasião Buck atacou dois gansos adultos. Era noite de lua cheia e nessa época as mulheres, os computadores e os cães de cor branca ficam muito sensíveis, acho. Ouvi ruídos de luta e o grasnar furioso dos gansos. Buck é um cão esguio, totalmente branco, capaz de saltar muros e cercas muito altos, voando veloz e certeiro como um cão encantado. É um verdadeiro assombro. Tenho que mantê-lo preso por pesadas correntes e ele não gosta nada disso. Naquele dia o deixamos solto e ele fugiu mesmo com a cerca elétrica ligada. Quando me levantei e olhei pela janela mais alta da casa, em meio aos pés floridos do urucun surgiam sucessivamente, aqui e acolá, os vultos brancos de Buck e dos gansos em meio ao alarido furioso das aves - Buck sempre luta em absoluto silêncio. Vi que era luta de morte. Nesses casos, e sendo duas horas da madrugada, não adiantava interferir. No dia seguinte consegui prendê-lo logo cedo. Dos gansos, inicialmente, achamos somente muitas penas, em dois lugares diferentes. Continuei procurando e quando o sol já ia alto este ganso da foto apareceu andando em minha direção, bem vagarosamente, todo machucado. Passou por mim em direção à casa e o acompanhei sem forçar a marcha. Quando chegamos ele deixou que o pegássemos e medicássemos, sem oferecer qualquer resistência. Sobreviveu. Bem mais tarde, quase noite, apareceu o outro ganso. Mais arrebentado ainda, mal se mantinha em pé. Apesar dos cuidados morreu no dia seguinte. Fiquei absolutamente impressionado que eles tenham sobrevivido a uma luta com Buck e mais ainda que tenham conseguido fugir. Talvez porque fosse uma noite de lua cheia...
Posted by Picasa

Eita Coisa Boa!

Vou casar mais não!

He, he...

sábado, 20 de setembro de 2008

Brincando com aquilo...

Resolvi não mais morar na praia. Ninguém deu um pio.

Gostei de brincar disso.

Vou resolver muitas coisas ainda. Só de brincadeirinha.

Acho que vou querer me casar de novo. Por exemplo. Mas casar com quem?

Tem que ser uma mulher de poucas palavras. Que tenha um bom perfil. Que seja boa cozinheira e goste de tomar cerveja. Que cultive a harmonia e que me ame, admire e venere exatamente o quanto me fizer sentir de cada um desses sentimentos. Que me aceite e tolere, me faça massagens nos pés e não se incomode se eu for pirracento ou rabugento. Que não me venha com ciúmes em exagero, nem se sinta na posse. Atenção: mulher de poucas palavras! E que não use sutiã, exale os melhores perfumes e me acorde no meio da noite apenas para sussurrar em meu ouvido as mais cabeludas sacanagens.

Inscrições abertas, até eu resolver o contrário.

E nem um pio sobre esse assunto!

domingo, 14 de setembro de 2008

Empapuçado de Liberdade

Ontem resolvi: vou morar na praia!

Avisei aos meus filhos e fui. Acharam ótima idéia, mais um lugar para passear.

E pronto.

Hoje voltei para começar a arrumar as coisas que quero levar. Vou manter a casa onde moro, no sítio, porque durante a semana pretendo pousar aqui, que é mais perto do meu trabalho.

Posso levar o que eu quiser. Pouco, muito ou tudo. Ou nada.

Lá, vou pintar a casa de salmão e as janelas de azul. Pescarei. Tomarei banho de mar.

Ninguém mais pode fazer coisa alguma sobre isso.

Pensar nessa liberdade toda me deixa um pouco tonto.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Refletindo, registrando...

Dizem os antigos que um pai cuida de dez filhos mas dez filhos não cuidam de um pai. Conversas de sertanejo. Vejam a história de Seu Leandro. O velho peão, já bem cansado, dado por velho demais pelo patrão, foi demitido e mandado desocupar a casinha onde se abrigava na fazenda. O jeito foi procurar o único filho que ainda morava ali perto, na cidade, e que era casado e tinha um filho de 8 anos, que lhes dessem um quartinho para passar os seus últimos dias, que desconfiava não seriam muitos. Antes que o filho se pronunciasse a sua esposa, mulher de pouca doçura, espetou-lhe a faca nas costelas: nem pensasse em abrigar ali, no seu lar sagrado, aquele velho ignorante e fedorento, era ele entrar por uma porta e ela sairia pela outra para nunca mais voltar! Sempre dominado pelas vontades da megera, o rapaz logo se conformou. Acabrunhado, foi ao quintal e apanhou um couro de boi recém curtido e chamou o velho pai a um canto, desculpando-se por não ter condição de recebê-lo e oferecendo-lhe o couro, para que o velho nele se enrolasse e se abrigasse onde conseguisse algum lugar para se deitar. O garoto, que a tudo assistiu, esperou que o velho saísse e correu ao seu encontro, chorando e acenando. Queria um pedaço daquele couro, que o avô o dividisse ao meio, era couro demais, que ele tinha direito a um pedaço, e tanto chorou e exigiu que o velho, condoído, cortou o couro em dois pedaços iguais, dando um pedaço ao neto. O menino voltou para casa com a metade do couro enrolado e debaixo do braço, quando viu o pai na porta, observando. ¨Por que você ainda foi tomar um pedaço do couro do pobre homem, seu avô? Não basta sua mãe tê-lo enxotado daqui?”. Perguntou, cheio de amargura. “Pois é, pai, eu vou guardar esse couro até quando o senhor estiver velho, pois pode ser que lhe aconteça a mesma coisa e o senhor venha até a mim...”.

Essa história é contada em música por Tonico e Tinoco, acho.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Umas coisas que andei pensando

Amigos da Onça


Um empreendedor adquiriu terras em Mato Grosso e lá instalou um belo projeto de criação de ovelhas da raça Santa Inês, investindo em pastagens, instalações e genética, com matrizes que chegam a valer até R$ 3.000,00 cada. Como recomendado, todos os dias as ovelhas são recolhidas para o pernoite em um local fechado e abrigado contra frio, vento, chuva e predadores comuns, como cães.

Numa noite dessas da semana passada, uma onça entrou no local e matou quase trinta ovelhas da fazenda. Um especialista informou que nesta época as onças estão em fase da acasalamento e saem para caçar, para se alimentar. Sugeriu a captura e remoção do felino. O empresário pediu licença ao Ibama para capturar a onça e solta-la em algum local de matas longe dali. O Ibama respondeu com o óbvio: a onça, como animal silvestre, estava protegida pela lei. Não concedeu a licença.

Como fazer instalações à prova de onças é muito caro e não protege o rebanho nas horas de pastoreio, a essa altura o empresário já deve ter matado a onça. O Ibama é mesmo um amigo da onça...



Lá e Aqui


Não conheço in-loco a situação econômico-social da Argentina mas sempre ouvi que eles são uma gente culta, engajada, atuante, sem pobres miseráveis e ignorantes na sua população. Deduz-se que devem saber em quem estão votando. Volta e meia se vê argentinos revoltados contra o governo, promovendo quebra-quebras e panelaços, aos quais assisto pela TV com um misto de admiração e inveja. Impressiona a disposição dos hermanos para a mobilização frente a qualquer desmando ou violência promovido pelo governo.

Pensando cá com meus botões, esses filhos da puta são piores do que eu pensava. Aqui perdoamos nossos eleitores, por colocarem essa merda de políticos em Brasília, considerando a sua situação de pobreza e ignorância, analfabetismo, dependência dos bolsas-isso e bolsas-aquilo do governo – a necessidade da venda do voto, etc. Mas lá, eles não são cegos! Como explicar o Néstor Kirchner antes e essa sua mulher agora?

Vai ver eles gostam mesmo de sofrer, como dizem...

Não vou falar uma vírgula sobre futebol.

sábado, 12 de julho de 2008

O Purgatório

Nunca luto mas apóio.
Torcida.
Sou um caso definido.
Preguiça.
Minha inteligência não soma.
Desperdício.
Sou um filósofo em causa própria.
Desculpa.
Enxergo tudo que não quero.

Aqui deveria haver um verso. Mas é foda!

Entre a sobriedade obtusa e a criatividade delirante do ébrio
Ainda nesse limbo promitente
Encontro-me
Meu habitat
Antes desse ponto suicido
Além desse ponto não consigo
Sou somente um espírito assustado
Descobrindo-se
Num lapso incandescente
Que passa muito longe dos sonhos...

Ao optar pelo limite
Entre o sólido e o sonho
Apenas exerço meus direitos
De sobrevivente.

Queria que me entendessem
Queria muito que me entendessem
Queria tanto...
Mas se não me entendem, fodam-se!

Moro muito bem nesse purgatório.


quarta-feira, 25 de junho de 2008

25 de junho de 2008 - reflexões

Dia 25/06/2008


Sou um homem severo, por isso cultivo o bom-senso. Sou bem-humorado mas levo muito a sério o que é de se levar a sério. Se você me é importante, nunca lhe serei distraído. Prefiro carregar a culpa de ser exigente com quem amo a de ser liberal e displicente. Para esperar menos teria que cometer o desrespeito de diminuí-los. Sou prestativo e cordial. Me solicitam até as raias da exploração. Às vezes penso que melhor seria negar-me que indignar-me, mas depois de um rápido momento, esqueço. Tive a felicidade de não ser rancoroso, mas tenho boa memória e vergonha na cara – o que lhe passa bem longe. Não me importo de parecer bobo aos cínicos que de tudo se locupletam – cultivo a decência. Nem tanto por ser visceralmente honesto, que o sou, mas antes para ter motivos de trovejar com a alma na boca, com sentimento de irresistível justiça, quando explico a minha procedência. Sou de boa família, sou limpo e cheiro a sabonete. Choro pela miséria do mundo. Tenho um sentimento caricato de ódio, quase patriótico, por argentinos – aquele povo que nos olha de cima para baixo – mas dali tiro bons amigos. Sou avesso a política, nesse sentido prático e viciado que hoje existe, e portanto me omito. Torço pela harmonia do mundo. E pelo Fluminense. Ainda hei de viver em permanente festança.

Sendo desse jeito, hoje não sei se fiz as escolhas mais certas. Sendo desse jeito, hoje não tenho certeza de ter vivido da melhor forma. Sendo desse jeito, hoje só sei de uma coisa, que me basta: fui suficientemente honesto para viver segundo as minhas próprias crenças!

(O que mesmo eu quis dizer com isso?)

sábado, 31 de maio de 2008

Rosa?



Beijava flores no jardim
qual beija-flores
qual beija-mulheres
quando aparecestes
e então tudo ao redor se esfumou, evaneceu, desfocou
e o meu mundo era só você
e a nossa paixão rodopiante
tocava uma música tão linda, lembra-se?

Minha embriaguez
pela primeira vez
era tão sóbria
tanto que até dancei...

Embriagado pelo teu néctar
que tomei num beijo
num passo da dança
minha flor mulher
tive a certeza mais certa por que já passei:
eras única, na minha vida,
a mulher que eu sempre desejei!

Acordei numa ressaca danada, amor,
e não me lembrei muito bem do seu nome...

Rosa?

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Festa do Rafa

Quarta, 28

Torcer por um time de futebol. Outro tipo de amor. De compromisso. Racionalmente incompreensível. Desses sentimentos que nos incutem, sem essa necessidade. Ame o seu País, o seu Estado, a sua Cidade, e fará o que lhe ensinaram desde o princípio. Ame um time e não saberá a razão. Foi o nome, o uniforme, uma reportagem, um jogador, as cores, uma transmissão, um amigo ou alguém da família, algo o fez virar torcedor. No meu caso um jogo de pebolim, que meu pai nos deu de presente e que representava o clássico carioca, o FlaxFlu, com jogadores em uniformes rubro-negros enfrentando jogadores em uniformes tricolores. Mau irmão, mais velho, escolheu o Flamengo. Escolhi, quer dizer, fiquei com, o Fluminense. Meu irmão nem se lembra disso, não torce por time nenhum e sequer acompanha futebol. Eu sou Fluminense “doente”, tenho bandeira, camisa, boné, carteirinha falsa e cópia de ingresso de um FlaxFlu que assisti no Maracanã. Adoro torcer pelo Fluminense. Recomendo que cada pessoa torça por um time. É grátis, envolvente, divertido, apaixonante, socializa e inclui. Dispense o fanatismo, esse é doentio e sem controle. Torça com alegria e espírito desportivo, pratique sempre o fair-play, mas nunca se esqueça de sacanear os adversário até o limite. Afinal, os outros torcedores não passam de babacas ignorantes que não sabem nem escolher um time decente para torcer. Entende...?

E viva o Fluzão, meu eterno campeão!

terça-feira, 27 de maio de 2008

Feliz Aniversário!

Segunda, 26


Amanhã, 27 de maio de 2008, é um dia especial, aniversário do meu filho Rafa. Aniversários me deixam numa ansiedade infantil. Meus quatro filhos são absolutamente diferentes, Carol, Paulinha, Rafa, Tuti... Ainda bem que amor não ocupa espaço físico, meu coração seria do tamanho do universo... De repente meu coração é do tamanho do universo. Amanhã é um dia especial, é aniversário de Rafa. Aniversários estão longe de ser apenas as datas que comemoram a nossa sobrevivência. São os dias especiais, que nos homenageiam. Todos merecemos ter um dia assim, um dia nosso, acima de dia das crianças, dia dos pais, dia das mães, dos professores, do médico ou do profissional da propaganda. Alguém que não vê essa importância no dia do seu aniversário, que não comemore minimamente, que nem se lembre, alguém que veja esse dia apenas como uma convenção meramente comercial, é alguém a quem falta a capacidade básica de se valorizar e de se recompensar. Acho triste. Adoro aniversários. Festejem, então, pois merecemos.

Parabéns, Rafinha, eu amo muito você!

domingo, 25 de maio de 2008

Um Diário mensal???? Que p.... é essa????

Domingo, 25/05/08


O homem pode ter qualquer ilusão mas é só uma vidinha. Uma manhã bonita deve deixá-lo feliz às sete. O noticiário não fala de nada muito próximo. Um bilionário pegou um avião emprestado e sumiu sem deixar rastros. Preocupa-se vagamente com a falta de um manual sobre criar os filhos, como se os tivesse. Tem que ir trabalhar. Esperam suas ordens como se fosse idiotas. A música no carro combina com vento na cara, desliga o ar e abre os vidros, sente-se ainda feliz. Essa felicidade pequena, dura. Mulheres são ótimas pessoas, pena que... Não acontecerá nada muito excepcional nos próximos dias. Há pessoas boas no mundo. Sente uma piedade quase dolorosa, pensando nas pessoas que vivem com tão pouco. As horas. O significado da palavra inexorável. Conselhos. Almoço. Uma mulher que se insinua pode ser insuportável. Uma mulher que não se deixa seduzir, idem. Uma mulher que lhe beije a nuca, os cabelos, a orelha, e sussurre saudades. O cowboy monta o cavalo e se vai, pensando que a única coisa que o homem precisa na vida é saber que há em algum lugar uma boa mulher que lhe ama e lhe espera. O que essa mulher faz nas horas vagas?

A tarde estende-se ou abrevia-se. O pão quentinho remete a outras tardes em cozinhas tão aconchegantes que a simples lembrança molha os olhos. Nunca se sabe onde está a felicidade no exato momento. Um bom livro pode ser a salvação da noite. Ficar de olhos abertos no escuro é um vício que ajuda a alertar os sentidos até o sono desligá-los um a um. Sonhar tão vividamente prova que há uma, ou várias, vidas em dimensões paralelas e ponto final.

De vez em quando o homem se divide em muitos, mas sempre há uma hora em que seu anjo da guarda os enfeixa numa mão e os põe todos para dormir. Não há garantia de que você acorda sendo o mesmo homem que foi dormir. Nem de que não seja. A única coisa garantida é que todo dia acaba e recomeça, nessa vidinha feliz e besta. Ainda vou descobrir o que faz o homem esperar que algo muito especial aconteça e viva tão provisoriamente sua vida toda. Tenho umas idéias sobre isso mas as esqueço.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Cotidianamente

Ainda dormia ontem
Quando entrastes
Pela fresta da minha janela
Raio de felicidade
De onde viestes?
Em que te conduzistes?
No velho raio de sol
Numa estrela cadente
Ou num foguete?
Numa sandália singela
Ou na força candente
Da minha saudade?
E por que tão pouco
Ficastes?
Ainda acordava ontem
Quando mais uma vez fugistes.
Da tua fugidia lembrança
Meu parco alimento
Sustento-me até a noite.
Espero-te novamente em sonhos.
Nesta fugidia realidade.
Perco-te cotidianamente.
Um dia, porém, um dia desses
acordarei um instante antes...

domingo, 20 de abril de 2008

Melhor não pensar...

Meu coração pulsa. Sangue, veias. Tenho dois pulmões, acho. Respiro, aspiro, suspiro. Tudo me parece magnífico demais. É uma sorte que tudo funcione e eu permaneça, portanto, vivo. Vivinho da Silva. Xavier. Sempre pensei que era artista de um filme sobre a minha vida. Nada sério demais. Sempre imaginei câmeras a me seguirem por toda parte. O que os padres não conseguiram, essa minha fantasia sim. Evitei uns pecados. Para algum dia longínquo alguém assistir. Minha namorada nunca soube disso. Minha namorada nunca soube de nada, nunca houve. Também ninguém no meu time de futebol. Gols, jogadas, arrancadas, defesas, nunca vistas por ninguém. Não Há Futebol Clube. Tampouco em meu escritório sabem algo sobre mim, as minhas secretárias sem rosto e sem nome, os meus clientes e os seus sorrisos de satisfação em rostos sem traços. Mas os ternos eram Armani e suas mulheres, todas, queriam me namorar. Minha esposa me espera num país de um lugar desse mundo e meus filhos são todos super-heróis.

Não tenho medo do escuro, do frio ou da solidão. Nem do meu passado, que não costumo visitar. Nem do futuro, esse monstro esplêndido com sua bocarra aberta esperando, tão pacientemente, dia após dia, me engolir. Não tenho medo da fome, da dor ou da saudade. É preciso reconhecer o que há. É confuso. Mas minha cama é um barquinho balançando nessa água espessa que atravessa meu quarto e minha cabeça zumbe, zumbi, tão gostosamente, que não me permite pensar. Não pensar é que é bom. Não há nada. É só o que há. Gosto desse zumbido. Quase parece que não tenho medo de nada.

Mas tenho medo de uma coisa, sim. Por um átimo chega a pavor. Tenho medo que esse zumbido que eu ouço no meu ouvido se acabe. Antes que eu morra. E que eu tenha, então, sem zumbido nenhum para me distrair, que pensar. Em tudo que não há. Em tudo que há. Pavor. Antes de morrer não quero ter direito a um pedido final.

domingo, 30 de março de 2008

Apenas Zé

Nada, nada, nada...
Cérebro vazio.
Alma prática. Cor de bronze.
Cifras, contratos e débitos.
Causas e conseqüências.
Talvez alguém me ame.
Talvez não.
Não faria diferença.
Se eu amasse, ou não.
Embriagado, ou não.
Não faz diferença.
Tristeza e melancolia
chegam a fazer falta.
Nenhuma diferença.
Nos meus planos não há poesia.
Isso não são versos.
São confirmação.
Sem poesia, sem sentido, sem sono.
Minha cela é supérflua e luxuosa.
Minha liberdade é inócua.
E minha existência.
Apenas é.

terça-feira, 25 de março de 2008

Não desisti

Viajei. Fui visitar minhas filhas.

O meu provedor me cobra de seis em seis meses. Corta meu acesso se eu atrasar o pagamento por dez dias. O último semestre acabou em fevereiro e eu não sabia disso, nem me lembrava. Acho uma estupidez cobrar de seis em seis meses, não oferecer opção de débito automático e ainda cancelar o acesso em 10 dias após o vencimento. O meu provedor é administrado sob o signo da estupidez. Tenho que trocar de provedor.

Voltei.

Toda vez que viajo alguma coisa acontece...

Uma leitora disse que sou preconceituoso porque escrevi "mulheres são sempre mulheres". O que mais poderiam ser? Ela mesma pergunta... Sei lá... Ou não.

Vou começar a contar a história de Gonçalo aqui. Aguardem.

Voltei, mas ainda não. Entende?

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Meu Diário – 23/09/2008

Blogs, creio, têm essa clara vocação. Por isso de hoje em diante pretendo registrar aqui somente o mais relevante da minha existência. Deus me ajude.

Faz um tempinho que não escrevo. Isso é bom, a gente junta assunto e não escreve sob a pressão de prazo. Por isso de hoje em diante pretendo registrar aqui somente o mais relevante da minha existência, mas de forma bissexta, com freqüência variada. Deus me ajude de novo!

Hoje acordei assim, falando pelos cotovelos. Sempre que isso acontece eu me lasco. Minha empregada foi-se embora com um senhor novo rico do Rio de Janeiro. Meus dois filhos trouxeram nove amigos aqui, para entre outras coisas cortar o cabelo raspadinho, fazer um grupo de carecas mal-encarados do bem. Minha casa virou um chiqueiro. Pacientemente vou lavando e limpando o que dá tempo. Ontem foi a vez da cozinha. Levei três horas nessa tarefa. Descobri que minha empregada escondia a sujeira debaixo da geladeira e dos armários. Deve ser por isso que comecei a pensar em uma mulher de novo...

Semana passada levei uma garota a um motel. A gente se conheceu antes, houve aquele entusiasmo mútuo mas ela estava com um namorado, adoro esse tipo de respeito que algumas mulheres demonstram pelos namorados. Tendo se livrado do namorado ligou pra mim. Estou desacostumado. Ela, bem mais desenvolta, sugeriu um motel luxuoso da cidade que eu não conhecia. Fui topando as coisas que ela sugeria, meio sem ter outra opção, e admirei-me porque ela parecia tão mais à vontade do que eu. Um problema monstruoso me atormentou o tempo todo: eu havia esquecido seu nome, embora ela tivesse se identificado quando ligou. Na dúvida, chamei-a o tempo todo de “delícia” e “minha lindinha”, que eu abomino. Mas ela, sei lá se também esquecida do meu nome, passou o tempo todo me chamando de “meu lindinho”, portanto... Foi uma bela noite e deu empate técnico no final. Resolvi fazer um teste-drive e convidei-a para no dia seguinte passar a tarde aqui no sítio.

Mulheres são sempre mulheres. Minha adorada piscina, estilo ofurô que aqui batizamos de Oh-Rachou (homenagem a minha filha Carol que ao ver as rachaduras na fibra de vidro da primeira versão fez essa exclamação) foi logo humilhada (por que você colocou essa caixa dágua bem aqui na entrada?), meus sete pares de havaianas na porta (ih, isso está precisando de uma arrumação), meus adorados painéis de fotos (eca! deve ter até foto de gente morta aqui!), meu resfriador abarrotado de bebidas (pelo jeito isso aqui deve ser bem animado, imagino com que tipo de gente!) e etecétera. Não adiantou o “adorei tudo, principalmente você” no final, a desgraça estava posta e eu nunca mais vou ligar para essa vaca!

Por isso ontem lavei a minha cozinha por mais de três horas. Com todo prazer. Hoje ataco os sanitários e a salinha de estar. Sozinho, pacientemente, como haveria de ser...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Mais Confissões de Um Pervertido

Engenharia Reversa de Um Poema
(ou minhas engrenagens à mostra)


Paixão e Sexo. Mercadorias que aprecio. Nada que se compare ao amor verdadeiro por uma mulher, mas aonde? Mulheres, aliás, parecem preferir outra matéria, que tecnicamente podemos chamar de “relação conseqüente”. Ponha-se sobre o prato a idéia de culpa e pecado que nos incutiram as gerações antecedentes. De sobremesa o romantismo incutido desde longas épocas nas cabecinhas das nossas meninas e então se compreende o príncipe encantado, o castelo, a eterna lua-de-mel de sonhos e os milagres que elas incessantemente procuram em cada relação. Ah, mulheres...

Salvo boas e raras exceções, mulheres desencanadas, práticas, coerentes e sensatas (convenhamos, muito boas e muito raras), as outras só complicam. Complicam a minha cabeça. Enquanto procuro uma boa e saudável parceira para namoro e sexo sem restrições ou cobranças (e só! até que nos encontremos outra vez), só encontro mulheres que querem antes avaliar a nobreza das minhas intenções, a real dimensão dos meus sentimentos, a possibilidade de uma relação estável e duradoura a partir daquilo, ou seja, querem discutir a relação antes dela mesmo começar! É duro...

Como não discuto com o destino (parodiando o Leminsky), enfrento-as com galhardia e otimismo. O diabo é que eu sou fácil de gostar. E não quero fazer sofrer ninguém de quem eu gosto. Entendeu o nó? Também sou péssimo em mentiras, tanto que nem tento. Logo, logo, escancaro minhas intenções e me lasco.

Tem dia que acordo pensando nisso. Quando penso demasiadamente em alguma coisa tento encerrar o assunto escrevendo um poema. Me transporto. Me coloco no lugar de quem elas pensam que sou, mas que não conseguem me convencer disso. Canalha, calhorda, galinha, infiel e tarado são alguns adjetivos que carrego. Fico mal, quando os encarno. Meu cerne é nobre. Há um conflito. Hoje escrevi esses versos.

O amor em mim é tumulto.
Sou franco.
Franco atirador de paixões.
O meu alvo é só um vulto
que veste muitos corações.
Uma multidão de amantes.

Tento justificar o que seria, mas não sou. Oras, sou um homem saudável, limpinho, escovo os dentes depois das refeições e tomo 3 banhos diários inclusive um antes de dormir, não reclamo da vida, não me queixo da sorte, não sou dado a cobranças e até já deixei o hábito de me virar para o outro lado depois de um bom sexo. Eu até converso, nessas ocasiões! Só porque procuro um bom namoro sem maiores conseqüências querem me fazer acreditar ser esse monstro, humpf!

Tomei do cupido o ofício
e disparo a esmo
em meu próprio benefício.

Tento me vincular a algo nobre e simpático. Cupido. Fazê-lo em meu próprio benefício é detalhe...

Tomo teu corpo em minhas mãos
como alimento.
Pratico o ritual que desejas
alivio o teu sofrimento
e iludo tua alma
mas não a minha.

Olha, sinceramente, eu não sofro com isso. (Epa, isso é um comentário, não um verso)

Sedução é apenas um exercício.
O amor em mim é tumulto
que vira minha alma ao avesso
e obedece apenas ao meu corpo.

Eis o involuntário, o desgovernado, a minha falta de culpa pelo que acontece. É a natureza, bobinhas!

Com meu corpo em tuas mãos
tens apenas o momento.
O amor em mim é tumulto
prazer de um só instante
angustiado lamento.

Lamento? Ah, tá... Delas. (Achei esse comentário muito cafajeste, aliás esqueci desse adjetivo na lista ali acima).

Pois é. Exorcizo assim esse ser nobre e complexo, cheio de culpas e pecado, no qual me transformei por instantes no poeta que escreveu isso tudo aí. Sai de mim, demoníaco ser escravo do sexo e do pecado, esse corpo não lhe pertence! E volto então, sereno e tranqüilo, ao meu ofício.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Gaia e os Vermes

Hoje é domingo e ontem não consegui seduzir uma moça porque fui sincero demais. Tudo em excesso é sobra. Como o meu entusiasmo não era tanto assim, também não me incomodei muito e fui ver o Beiçola no Altas Horas. Afinal, depois de um certo tempo fica tudo muito igual. Mulheres são seres muito especiais e complexos. Saudade de Maria Tetê, que sempre que me visitava ou me recebia perguntava logo: o que vai ser? trabalho, papo-furado, namoro ou tiramos a roupa? Nunca vi Maria Tetê perder um amigo. Pena que um finlandês a levou, faz uns anos, e nunca mais...

Dormi pouco mas acordei com vontade de fazer algo diferente nesse dia claro e escaldante. Experimentei fazer um café especial mas tudo que tinha em casa era pão embolorado, aipim e dois ovos. Descartei o pão, comi aipim com ovos e tomei café com um pingo de leite desnatado. Estou em plena dieta para emagrecer, com 4 quilos de resultado em 30 dias. Daqui por diante será mais duro, eu sei. Aipim com ovos não é dieta? Você é que não sabe do que eu era capaz...

Tento fazer um poema, sai tristonho, não combina com o dia:

Flutuo entre escolhos nesse mar revolto
destroços dos meus mais recentes naufrágios
como uma cabaça vazia sem razão e sem rumo
exatamente do jeito que vivo, ou do jeito que morro.
Meu destino estará por certo em qualquer norte
e num dia qualquer acabarei chegando em algum porto
o meu futuro está pois sujeito a toda sorte
exatamente como hoje sobrevivo, vivo ou morto.

Ficar dias e dias sem beber me deixa doentiamente sóbrio. Esperar pelo meu amor definitivo me deixa ansioso. Esperar ganhar na mega-sena me deixa desanimado. Esperar que a chuva caia do céu me deixa resignado. Cada coisa que acontece, cada coisa que não acontece, resulta num sentido. Acho que é por isso que falam em Gaia, a Terra Mãe. Eu sou um verme dessa coisa toda, mas tento desesperadamente não ser um verme canalha. Você sabe, você me entende...

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Emails, emails...

NOVIDADES DO LIMÃO

Cientistas japoneses garantem que espremer um pouco de sumo de limão dentro da vagina antes do sexo pode matar os espermatozóides, tornando-se um contraceptivo barato e simples.

Assim, como somos brasileiros e procuramos juntar o útil ao agradável, adicione um pouco de açúcar, gelo e pinga na hora da relação sexual e, usando o pênis como socador, você tera um novo tipo de caipirinha: a caipixota (ou caipiceta, ou caipibuça). Os mais refinados dão-lhe nome de caipigina e se utilizam de canudinho.

Beba ..

Chupe...

Coma... Sei lá, porra!!!

Mas, sempre com moderação!!!

E LEMBRE-SE..SE CHUPAR NÃO DIRIJA, SE DIRIGIR NÃO CHUPE!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Marketing do Diabo

Pessoas bonitas e/ou interessantes são como anúncios.

E anúncios são pequenas armadilhas.

Oferecem coisas que não queríamos. Nem precisávamos.

Pensem nessas campanhas publicitárias. Seduzem como olhares de serpentes. Conquistam-nos com soluções para problemas que nem temos. Fazem-nos desejar coisas que não queremos. Provocam fantasias, tão misteriosas quanto sem sentido. Induzem, cegam, muitas vezes nos enlouquecem. Acendem desejos absolutamente dispensáveis.

Anúncios são como pessoas bonitas e/ou desejáveis.

Pecados disfarçados, mexem com a parte da nossa natureza que a civilidade esconde. Anúncios são como o diabo. E o diabo, sabe-se, veste Prada. E toma Coca-Cola, e fuma Marlboro, e calça Adidas, e fala num Motorola, e dirige um Toyota. O diabo seduz e convence até o próprio diabo!

O desejo, a necessidade, de convencer e seduzir é algo inerente à nossa natureza. Pessoas sempre quiseram seduzir pessoas. Uns deixam-se seduzir por isso, outros por aquilo, mas sempre haverá quem saiba disso ou daquilo para seduzi-los.

O poder de seduzir dá poder. Dá domínio. Faz com que uma pessoa se dobre à vontade e ao desejo de outra. Propicia relações viciadas, tirânicas, mesmo que enfeitadas de fidelidade, amor ou respeito. O sedutor é o diabo na posição de ataque. O seduzido, longe de coitado, é praticante de outro tipo de sedução, é o escolhido. O seduzido é o diabo na defesa.

Pensada por essa ótica a humanidade não passa de um mercadinho fuleiro, um andar abaixo do inferno, vizinho pobre do purgatório. Mas o diabo quando toma Old Parr é meu amigo.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

um nada de mim

...meu passado é um painel mutante e colorido. minha prima levou um caldo, peitinhos de fora, numa tarde no mar. minha namorada tinha mau hálito. na casa da minha tia tinha uma rede no corredor de fora da casa e eu dava uns amassos numa menina da cidade vizinha quando ela chegou. minha prima tão inocente tocava piano. meu irmão estudava para passar no vestibular. uma menina reconheceu seu incrível charme e lhe pediu para tirar fotos na praia. nua. nunca me aconteceu. eu dormia sonhando com princesas e putas. um dia tomei muita batida de limão. na verdade nunca me senti em casa aqui na Terra, é tudo meio provisório..

quando estou ocupado não faço poesia
nem alegre
nem feliz
quando estou fulminado por alguma paixão
minha poesia é brega
pura sonegação
não faz nenhum sentido
só serve para aparar o que transborda
do meu coração
como calda de açúcar fervendo
num tacho de cobre
num velho fogão

...as mulheres gostam de enfiar os dedos nos meus cabelos. o pai tem duas filhas casadas. lindas, sinuosas, adultas, quisera-as adúlteras, as duas. ele me chama de carneirinho. se transformará em breve num ridículo pederasta. suas filhas adoram enfiar os dedos nos meus cabelos de carneirinho. adúlteras, tão adultas, as duas, dormimos juntos no escuro e é bom. ele veste jardineira cor-de-rosa, elas mordem meu queixo e babam. gosto dessa família. quando vou-me embora de madrugada sei que a mais velha vai sonhar comigo mas a outra tem fome e fará um sanduíche de carne de carneiro com hortelã e uma pitadinha de manjericão...

minhas paixões são de lavas
meu coração é vulcão
sulcado em suas encostas...

... aprecio as hierarquias naturais. minha avó paira sobre todos. porte de mandona, matriarca, rainha. usa a tolerância como poucos. também a generosidade. todos lhe devem alguma coisa. a festinha de feijoada num sábado encalorado de salvador é tolerância. aos netos. a nós. os velhos conversam nas salas, o bufê é preparado. ela veio e está linda. pernas compridas, torneadas, coisa de satanás. cara de boneca. boca de pecado e perdição. no nosso quarto de portas envidraçadas pela metade não se vê o que se passa a oitenta centímetros do chão. eu aceno para a Vovó e as titias enquanto ela me fela. Não existe verbo felar, nós criamos. Eu fico vermelho e entusiasmado até o ponto de uma loura com cara de uva passa me indicar com as mãos que quer vir aqui. gozo fazendo que não com o dedo. elas engolem...

quando estou triste ou melancólico
faço boa poesia
ou quando estou eufórico
que nunca me lembro
ou quando estou bêbado.

... gosto de escrever para ninguém, como isso que escrevo aqui. sinto muito se você queria algo com senso e sentido. quando há sentido com certeza não há nada de mim.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Feliz Ano Novo!

(Pós 2007)

Hoje meus cães brigaram novamente. Filho e pai. Não se consegue apartar. O filho mostrou mais uma vez ao pai quem é que manda na área. Que não há espaço para os dois. À custa de pedaços de orelha, um bocado de sangue e muitas escoriações. Faz parte da natureza dos cães.

Ontem eu cheguei de Guarajuba, onde passei o Natal e o final do ano. Somos uma família numerosa, festeira, unida, linda. Temos esse encontro marcado em todo final de ano e são encontros inesquecíveis. Abraços e beijos, elogios e presentes, música, dança e comilança, animação. Há espaço para a farra e a boa conversa, os causos, as pilhérias, as gozações. Acompanha-se o crescimento da meninada, orienta-se, aconselha-se, interessa-se. Pelo menos até agora, nenhuma briga que eu saiba.

Guarajuba era pequena, um ou dois loteamentos em torno de uma vila de pescadores. Era um lugar muito bom. Continua bom. Por isso vieram mais condomínios, hotéis, pousadas, resorts. Encheu de gente. Gente endinheirada, que o lugar é caro. Não se pode mais ir tomar um sorvete na pracinha porque ali os rapazes endinheirados ligam os seus sons, quase trio-elétricos, que extrapolam os limites dos seus carros, e disputam quem toca mais alto. Porque ali não se respeita ninguém. Perto dali, na praia, o Projeto Tamar identifica e localiza cada ninho de tartarugas com piquetes, e são centenas de ninhos nessa época do ano, época de desova. Os ninhos, antes símbolos da luta pela recuperação da natureza, são profanados por curiosos que destroem os ovos apenas para ver como são por dentro. Num hotel de luxo vizinho à casa onde me hospedava houve briga na festa de reveillon. Entre os hóspedes, gente que pagou caro para se divertir muito. Se antes havia pouca gente e não se via esse tipo de coisa, agora é assim. Faz parte da natureza humana? Pois ainda penso, e torço para que seja verdadeiro, que metade do mundo é de pessoas boas. E tento fazer parte dessa metade.

E viva o Natal, e viva o Carnaval, e viva o São João, e viva a porra toda! Viva Guarajuba! Viva o Ano Novo! Viva eu, viva tu, óia o buraco do tatu...