quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Mais Confissões de Um Pervertido

Engenharia Reversa de Um Poema
(ou minhas engrenagens à mostra)


Paixão e Sexo. Mercadorias que aprecio. Nada que se compare ao amor verdadeiro por uma mulher, mas aonde? Mulheres, aliás, parecem preferir outra matéria, que tecnicamente podemos chamar de “relação conseqüente”. Ponha-se sobre o prato a idéia de culpa e pecado que nos incutiram as gerações antecedentes. De sobremesa o romantismo incutido desde longas épocas nas cabecinhas das nossas meninas e então se compreende o príncipe encantado, o castelo, a eterna lua-de-mel de sonhos e os milagres que elas incessantemente procuram em cada relação. Ah, mulheres...

Salvo boas e raras exceções, mulheres desencanadas, práticas, coerentes e sensatas (convenhamos, muito boas e muito raras), as outras só complicam. Complicam a minha cabeça. Enquanto procuro uma boa e saudável parceira para namoro e sexo sem restrições ou cobranças (e só! até que nos encontremos outra vez), só encontro mulheres que querem antes avaliar a nobreza das minhas intenções, a real dimensão dos meus sentimentos, a possibilidade de uma relação estável e duradoura a partir daquilo, ou seja, querem discutir a relação antes dela mesmo começar! É duro...

Como não discuto com o destino (parodiando o Leminsky), enfrento-as com galhardia e otimismo. O diabo é que eu sou fácil de gostar. E não quero fazer sofrer ninguém de quem eu gosto. Entendeu o nó? Também sou péssimo em mentiras, tanto que nem tento. Logo, logo, escancaro minhas intenções e me lasco.

Tem dia que acordo pensando nisso. Quando penso demasiadamente em alguma coisa tento encerrar o assunto escrevendo um poema. Me transporto. Me coloco no lugar de quem elas pensam que sou, mas que não conseguem me convencer disso. Canalha, calhorda, galinha, infiel e tarado são alguns adjetivos que carrego. Fico mal, quando os encarno. Meu cerne é nobre. Há um conflito. Hoje escrevi esses versos.

O amor em mim é tumulto.
Sou franco.
Franco atirador de paixões.
O meu alvo é só um vulto
que veste muitos corações.
Uma multidão de amantes.

Tento justificar o que seria, mas não sou. Oras, sou um homem saudável, limpinho, escovo os dentes depois das refeições e tomo 3 banhos diários inclusive um antes de dormir, não reclamo da vida, não me queixo da sorte, não sou dado a cobranças e até já deixei o hábito de me virar para o outro lado depois de um bom sexo. Eu até converso, nessas ocasiões! Só porque procuro um bom namoro sem maiores conseqüências querem me fazer acreditar ser esse monstro, humpf!

Tomei do cupido o ofício
e disparo a esmo
em meu próprio benefício.

Tento me vincular a algo nobre e simpático. Cupido. Fazê-lo em meu próprio benefício é detalhe...

Tomo teu corpo em minhas mãos
como alimento.
Pratico o ritual que desejas
alivio o teu sofrimento
e iludo tua alma
mas não a minha.

Olha, sinceramente, eu não sofro com isso. (Epa, isso é um comentário, não um verso)

Sedução é apenas um exercício.
O amor em mim é tumulto
que vira minha alma ao avesso
e obedece apenas ao meu corpo.

Eis o involuntário, o desgovernado, a minha falta de culpa pelo que acontece. É a natureza, bobinhas!

Com meu corpo em tuas mãos
tens apenas o momento.
O amor em mim é tumulto
prazer de um só instante
angustiado lamento.

Lamento? Ah, tá... Delas. (Achei esse comentário muito cafajeste, aliás esqueci desse adjetivo na lista ali acima).

Pois é. Exorcizo assim esse ser nobre e complexo, cheio de culpas e pecado, no qual me transformei por instantes no poeta que escreveu isso tudo aí. Sai de mim, demoníaco ser escravo do sexo e do pecado, esse corpo não lhe pertence! E volto então, sereno e tranqüilo, ao meu ofício.

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