Blog à toa...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Todo Louco é um Pouco Oco
ou Fumaça. Mas tudo Passa.
Ou Todo Oco é um Pouco Louco
que Passa. Tudo Fumaça.
Ou Todo Pouco é um Oco Louco
e em Tudo Passa a Fumaça.
Ou Todo Louco Fumaça Passa
e Tudo Oco é Pouco.
Ou Todo Pouco Passa
e Fumaça é Tudo Louco.
(Desde a escolha do Título
até o último verso ou capítulo
não vejo a menor graça...
Por pouco esse poema em versículos
não fica menor que os seus Títulos!)

Acordo oco. Ou fumaça.
Tento sentir meu coração
mas tudo o que comigo se passa
é o desconforto de estar vivo.
Nem alívio, nem sufoco
nada se move aqui dentro.
Ontem fiz alguém feliz
ermei por aí como um louco
resolvi uns negócios
e briguei um pouco.
Se não confiam mais em mim
ou se me amam assim, tanto
por algum crime que cometi
ou se semeei algum pranto
digo-lhes, fechem o cerco!
(como se eu fosse coisa sólida
e não apenas fumaça de esterco).
Oco, oco, vazio
no meu eu oculto, secreto
sei-me como leito seco do rio
sem nenhum talude concreto.
Amores, ódios, paixões
todo sentimento escorre, vaza
em todas as direções.
Tudo se vai, pouco a pouco
se esvai ou pelo ar se espalha
como água ou fumaça -
eis o peito de um homem oco.
Durmo louco. Mas passa.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Eu e Deus

Não sou lá muito religioso, embora reze um Pai Nosso antes de dormir, por via das dúvidas. Um dos meus critérios é acreditar em tudo, até provarem o contrário. De vez em quando me acontecem coisas. De vez em quando eu duvido. Então me encaixo em meus critérios e volto a acreditar. Em tudo. Pela simples razão de que tudo pode ser… Questão de fé. Tenho fé nos meus critérios. Me oriento, rapaz!

Deus apareceu aqui hoje cedo. No sítio. Ele começou a frequentar faz uns anos, quando escrevi aquele conto sobre o garoto esquecido pelo destino. Ele não aparece, obviamente, pela minha fé, mas porque acha que O entendo, nas Suas dificuldades com essa coisa de mandar no destino de tanta gente. Da primeira vez me disse: “Olha aqui, moleque, se acha que é fácil tente escrever um romance com apenas dois personagens, mas tome conta da vida deles todas as horas dos dias, e não como vocês fazem, acompanhando apenas os breves momentos quando as coisas que lhes interessam acontecem!”. Rabugento, foi embora. Passou a frequentar-me sempre que alguma manobra lá de cima Lhe parece mais complicada ou cansativa. Como a me dizer: e essa? Viu como foi difícil? Viu como foi que eu resolvi?

Deus não viria aqui apenas para jactar-se. Ontem estive pensando naquela garota que sobreviveu ao acidente do Airbus. Ela disse: “Nós vimos quando o avião caiu no mar. E então já me lembro de estar na água, agarrada a uma parte que flutuava. E que depois apareceu o navio, e o homem jogou a bóia e em seguida veio nadando para me levar”.

O navio levou mais de dez horas para achar a garota, e isso aconteceu à noite, sob condições absolutamente improváveis. Ela é a única sobrevivente entre mais de cento e cinquenta pessoas que estavam a bordo. A sua mãe estava sentada ao seu lado e morreu. A garota ainda não sabia de nada disso.

Ele chegou cedo, estava entre fatigado e orgulhoso. Queria falar sobre o assunto:

Já é difícil juntar mais de cem pessoas para esses finais comuns. Cada vida conduzida em detalhes, desde o nascimento até o dia fatídico, cento e cinquenta motivos, cento e cinquenta passagens, tripulação combinada, avião preparado e então aparece aquela linha solta no chão… Quem botou essa garota aí!!??? Ribombei pelos céus meu vozeirão, apareceu anjo de tudo que é lado, mandei costurar o novo enredo: vai parecer milagre, mas fazer o que? Providenciem que ela saia antes do impacto do avião, que se machuque apenas o tanto certo para dar verossimilhança à cena, que a água não a congele e que pelo menos um daqueles navios chegue perto o suficiente para salvá-la, nem que seja noite e que alguém tenha que pular na água fria! Entendido? Saiu anjo pra tudo que é lado… Hahahaha!

Bingo! Saiu tudo certinho! Cê viu?

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Viagem de Avião

Acordei bem disposto e tomei o café da manhã com a minha mãe e a minha filha. Peguei a mochila e fui para o ponto de ônibus na praia de Ondina, quase em frente, sob o sol fraco mas luminoso de prenúncio de inverno em Salvador. Cheguei ao aeroporto antes das onze e vi o jogo. O Brasil ganhou de 3 x 0. Dos americanos. Dia perfeito até aqui. O avião estava no horário. Desconfio desses dias até as duas da tarde. No meu vôo vinha um casal muito jovem. Ela passava sobre meu corpo para ver o que tinha lá embaixo, pela janelinha. Seu corpo jovem latejava (ah, minha mente!). O moço ao seu lado era seu irmão e gentil. Ela gostava do conforto de estar entre nós dois. Era sua primeira viagem de avião. Descobrimos coisas em comum, quando lhe disse que morava sozinho, num sítio fora da cidade (ela adoraria morar assim). Meu amor pelo mar (seu sonho de um veleiro) e, coincidência feliz, nossos projetos de algum dia viver em Salinas de Margarida, na Ilha de Itaparica, em frente a Salvador. Explorar o rio Paraguaçu. Ela, ainda ecologia pura, num veleiro, eu, cinismo de fim de linha, numa lancha. Há uma casa antiga, perto de um hotel, fechada, tombada, que eu adoraria comprar. Ela teria a pretensão de um sítio um pouco mais distante. Sussurramos docemente sobre as delícias daquele lugar. O carangodê, grande personagem de Salinas, as moquecas e a vazante da maré. Ela falava de frente pra mim, baixinho, colocando-se de modo a ocultar a nossa conversa do irmão, ao seu lado mas que assim ficava atrás de nós dois. Sua beleza infantil não me interessou muito, a princípio. Agora, assim, de tão perto, parecia uma beleza diferente, sedutora, adulta e sensual. O moço não parecia interessado na nossa conversa. E ela não tirava os olhos e nem virava o rosto quando eu a fitava muito intensamente. Minha intensa e generosa mente! Serviram biscoitos e refrigerante. Pausa entre nós. Só então consegui respirar confortável e profundamente. Virei-me para a janelinha, agora só minha, e no meu intenso cinismo contemplei as montanhas e lagos passando lá embaixo, pensando sobre como essas coisas são... Tudo acabaria como sempre, da forma que fosse. Eles seguiriam para São Paulo e gentilmente se levantaram para que eu saísse, e se despediram afetuosamente no corredor. Ela me abraçou com vigor e então quase sussurrando, os lábios acariciando intencionalmente a sua orelha direita, por entre os seus longos cabelos, sugeri: “De outra vez não coma tanto alho no almoço, é muito difícil de suportar...”.

sábado, 30 de maio de 2009

Poetas e Sapateiros

Uma vez acreditei que tinha a inspiração.

Boa Noite, Dona Inspiração, o que teremos hoje?

E lá vinha algo, um conto, um pequeno verso, uma situação, uma lembrança, e disso saia um texto. Nem tudo era legível, nem tudo era lível (inventei). Mas era um bocado de material, lá isso era...

De repente, durante noites e dias a fio...

Olá! AlÔ? Alou? Oi!!! Dona Inspiração? Onde estás???

Só consigo ter idéias práticas e úteis.

Acho que me transformei num alemão...

Mas porque ainda creio mais nos poetas que nos sapateiros, espero que Ela reapareça um dia.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Para manter um blog...

Não gosto mais de nada que escrevo.

Meu email é paulo_pirra@hotmail.com.

Escrevam pra mim.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Título Para Pagamento

Está no envelope. Roberto está á beira de um ataque de nervos. O mundo quer devorá-lo. A vida é voraz. Tudo, paga-se. Revolta-se. Roberto faz tratamento psicoterápico faz uns meses.

Vários títulos. O dinheiro sumiu mas eles chegam aos borbotões. Consórcio, água, luz, telefone, internet e tv a cabo. Impostos, encargos. Seguro Saúde. Cartão de Crédito. Sindicato. Vales para os empregados. Roberto descabela-se. “Não pago mais nada. Nada! Fodam-se!”. Uma pessoa neste estado pode ser fatal.

Tem um terno preto desse tecido que não amassa. Há um maço de notas, as últimas, guardadas num bolso interno do paletó. Não toca no dinheiro, não sabe da sua existência, das migalhas que Ana esconde com tanto fervor. Veste o terno. Preto. O seu destino é preto. Resolve ir de sandália. Japonesa, tipo Havaianas. Com meias brancas. Ir para onde? Não sabe, e nem quer saber. “Fodam-se, já disse!”. Roberto pirou.

O asfalto molhado reflete as luzes. Poucos carros chiam os pneus naquilo. Preto. Duas e meia da manhã. As meias brancas de Roberto encharcam-se e fazem um barulho bem chapinhado quando ele anda. As sandálias jogam lama na sua bunda. Roberto resolve que quer beber.

“Nenhum bar à vista. Não pago! A prazo? Também não pago! Fodam-se!”. Tudo se lhe afigura contrário, ameaçador!

Um carro da polícia encosta ao seu lado. “O cara está pirado, Homem!”. Não se sabe quem disse isso. Roberto reage, sabe-se lá porque,,, Uma cacetada na cabeça e as luzes coloridas fogem. “Fodam-se!”. “Este homem estava vagando pelas ruas. Um cidadão informou que ele mora aqui. É seu marido, Dona?”. O dinheiro não está mais no bolso do paletó. “Ai, Jesus, Roberto, o que você fez com o nosso dinheiro???!!!!”. Era tão seguro esconde-lo ali, fazia tempo que Roberto não usava aquele terno... O policial entrega um envelope. “Estava com isso nas mãos”. Que piração! Outro Título para Pagamento. Foda-se! Se tivesse aquele dinheiro, ou mais coragem, ou fosse um pouco impiedosa, ou tudo isso ao mesmo tempo, iria embora hoje mesmo...

No carro da polícia dois malandros riem da sorte. “Quanta grana, cara, que piração!”.

Ana, de Roberto, tem dificuldade para fazê-lo tomar os remédios. Depois espera até que ele adormeça. Chora. Se tivesse dinheiro ou coragem... Ana, de Jair, faz que dorme até que o marido – fedendo a cigarro e cerveja – comece a roncar. Levanta-se da cama com um misto de ansiedade e nojo. Na sala, revista a sua roupa. A noitada foi gorda. Com mais aquela grana já dá para ir embora. Volta e apanha as bolsas no quarto. Em silêncio abre a porta e vai-se ...

domingo, 8 de março de 2009

Domingos São Dias Tristes

Apertam a minha garganta
As mãos ásperas da saudade
Espremem a minha alma
Até as lágrimas nos meus olhos

Os seus braços longos sempre me alcançam
A sua suavidade doce sempre me engana
Se eu continuasse correndo talvez me salvasse
Mas hoje é domingo e
São as pessoas de quem eu mais gosto
Ela, hipnótica, sabe disso

Apertam a minha garganta
As mãos impiedosas da saudade
Espremem o meu coração
Até as dúvidas na minha mente

Talvez não fosse preciso nada disso
E pudéssemos estar sempre próximos
De todos a quem amamos
Mas somos tolos e preferimos soltar as mãos
Apenas para nos sentir mais fortes

Pior é que essa revolta mansa
Apenas se traduz num chorar contido
Quase envergonhado
E na certeza de que além desse poema
Nem tão triste assim, nem tão doído
Nada será mudado
Melhor seria que a saudade me esquecesse
E que eu sempre acreditasse
Que o destino é quem manda na gente
Pelo menos algumas vezes...