domingo, 16 de novembro de 2008

Gira-bomba



O garoto não deve ter mais que 12 anos. Monta um cavalo em pelo. Como se fosse um brinquedo, sem rédeas, sem nada, comanda o bicho com a pressão das pernas e algumas puxadas na crina. Vem buscar água de beber para o tio, que está no mato consertando cercas. É um garoto forte, de cabelos crespos e olhos desassossegados.

- Ontem entraram lá na casa do tio e roubaram as coisas dele...

Eu já soubera mas mostro-me interessado. Ele nem desmonta, apenas entrega a garrafa ao meu empregado e espera ali mesmo, defronte da porteira ainda fechada.

- Eu voltava para casa e vi a porta aberta, as coisas viradas de cabeça pra baixo, corri na casa da vizinha, mas ela estava com o diabo nas costas...

Nunca ouvi essa expressão antes. Agora interesso-me de verdade.

- Diabo nas costas?

- É. Estava com o diabo nas costas.

- Como assim?

- Ela estava no mato em frente à casa, rolando no chão e gargalhando.

- Oxe!

- Dizem que ela é gira-bomba. O marido e os filhos estavam segurando ela.

- Ela não estava bêbada?

- Faz tempo que ela não bebe, não senhor.

- Gira-bomba?

- É! Quer dizer, falam que ela é gira-bomba, essas pessoas que fazem esse negócio de macumba lá...

- Não seria pomba-gira?

- Não! É pomba nada, é macumbeira, ela! E estava com o diabo nas costas.

Pega a garrafa e faz o cavalo voltear, saindo em disparada na direção do mato fechado, onde o tio conserta a cerca e a pomba gira.

Um comentário:

Anônimo disse...

você mesmo fantástico