segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Refletindo, registrando...

Dizem os antigos que um pai cuida de dez filhos mas dez filhos não cuidam de um pai. Conversas de sertanejo. Vejam a história de Seu Leandro. O velho peão, já bem cansado, dado por velho demais pelo patrão, foi demitido e mandado desocupar a casinha onde se abrigava na fazenda. O jeito foi procurar o único filho que ainda morava ali perto, na cidade, e que era casado e tinha um filho de 8 anos, que lhes dessem um quartinho para passar os seus últimos dias, que desconfiava não seriam muitos. Antes que o filho se pronunciasse a sua esposa, mulher de pouca doçura, espetou-lhe a faca nas costelas: nem pensasse em abrigar ali, no seu lar sagrado, aquele velho ignorante e fedorento, era ele entrar por uma porta e ela sairia pela outra para nunca mais voltar! Sempre dominado pelas vontades da megera, o rapaz logo se conformou. Acabrunhado, foi ao quintal e apanhou um couro de boi recém curtido e chamou o velho pai a um canto, desculpando-se por não ter condição de recebê-lo e oferecendo-lhe o couro, para que o velho nele se enrolasse e se abrigasse onde conseguisse algum lugar para se deitar. O garoto, que a tudo assistiu, esperou que o velho saísse e correu ao seu encontro, chorando e acenando. Queria um pedaço daquele couro, que o avô o dividisse ao meio, era couro demais, que ele tinha direito a um pedaço, e tanto chorou e exigiu que o velho, condoído, cortou o couro em dois pedaços iguais, dando um pedaço ao neto. O menino voltou para casa com a metade do couro enrolado e debaixo do braço, quando viu o pai na porta, observando. ¨Por que você ainda foi tomar um pedaço do couro do pobre homem, seu avô? Não basta sua mãe tê-lo enxotado daqui?”. Perguntou, cheio de amargura. “Pois é, pai, eu vou guardar esse couro até quando o senhor estiver velho, pois pode ser que lhe aconteça a mesma coisa e o senhor venha até a mim...”.

Essa história é contada em música por Tonico e Tinoco, acho.

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