sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O Ganso e o Cão

 


Gosto de gansos. Belas aves, altivas, orgulhosas, atentas, vivem muito bem em grupo, defendem seu território com uma postura firme e agressiva e têm uma bravura fora do comum. Quando a mamãe gansa começa a chocar, eles mantêm um sistema de rodízio na sua proteção e mesmo depois de nascidos os primeiros gansinhos ela continua chocando pois as ninhadas saem em duas ou três etapas, aqui. Penso que todas as fêmeas em idade de reprodução botam em um só ninho e que há um revezamento no ato de chocar os ovos, mas aqui não consigo identificar os membros do grupo porque têm uma penugem praticamente igual - todos são brancos, sem manchas, e do mesmo tamanho.

Tenho um cão chamado Buck, um boxer, que adora todo tipo de animal e em especial os gansos. Da última ninhada, de seis gansinhos ele comeu três. O nosso pitbull chamado Branco comeu outros dois e hoje há apenas um sobrevivente.

Em outra ocasião Buck atacou dois gansos adultos. Era noite de lua cheia e nessa época as mulheres, os computadores e os cães de cor branca ficam muito sensíveis, acho. Ouvi ruídos de luta e o grasnar furioso dos gansos. Buck é um cão esguio, totalmente branco, capaz de saltar muros e cercas muito altos, voando veloz e certeiro como um cão encantado. É um verdadeiro assombro. Tenho que mantê-lo preso por pesadas correntes e ele não gosta nada disso. Naquele dia o deixamos solto e ele fugiu mesmo com a cerca elétrica ligada. Quando me levantei e olhei pela janela mais alta da casa, em meio aos pés floridos do urucun surgiam sucessivamente, aqui e acolá, os vultos brancos de Buck e dos gansos em meio ao alarido furioso das aves - Buck sempre luta em absoluto silêncio. Vi que era luta de morte. Nesses casos, e sendo duas horas da madrugada, não adiantava interferir. No dia seguinte consegui prendê-lo logo cedo. Dos gansos, inicialmente, achamos somente muitas penas, em dois lugares diferentes. Continuei procurando e quando o sol já ia alto este ganso da foto apareceu andando em minha direção, bem vagarosamente, todo machucado. Passou por mim em direção à casa e o acompanhei sem forçar a marcha. Quando chegamos ele deixou que o pegássemos e medicássemos, sem oferecer qualquer resistência. Sobreviveu. Bem mais tarde, quase noite, apareceu o outro ganso. Mais arrebentado ainda, mal se mantinha em pé. Apesar dos cuidados morreu no dia seguinte. Fiquei absolutamente impressionado que eles tenham sobrevivido a uma luta com Buck e mais ainda que tenham conseguido fugir. Talvez porque fosse uma noite de lua cheia...
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