segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

um nada de mim

...meu passado é um painel mutante e colorido. minha prima levou um caldo, peitinhos de fora, numa tarde no mar. minha namorada tinha mau hálito. na casa da minha tia tinha uma rede no corredor de fora da casa e eu dava uns amassos numa menina da cidade vizinha quando ela chegou. minha prima tão inocente tocava piano. meu irmão estudava para passar no vestibular. uma menina reconheceu seu incrível charme e lhe pediu para tirar fotos na praia. nua. nunca me aconteceu. eu dormia sonhando com princesas e putas. um dia tomei muita batida de limão. na verdade nunca me senti em casa aqui na Terra, é tudo meio provisório..

quando estou ocupado não faço poesia
nem alegre
nem feliz
quando estou fulminado por alguma paixão
minha poesia é brega
pura sonegação
não faz nenhum sentido
só serve para aparar o que transborda
do meu coração
como calda de açúcar fervendo
num tacho de cobre
num velho fogão

...as mulheres gostam de enfiar os dedos nos meus cabelos. o pai tem duas filhas casadas. lindas, sinuosas, adultas, quisera-as adúlteras, as duas. ele me chama de carneirinho. se transformará em breve num ridículo pederasta. suas filhas adoram enfiar os dedos nos meus cabelos de carneirinho. adúlteras, tão adultas, as duas, dormimos juntos no escuro e é bom. ele veste jardineira cor-de-rosa, elas mordem meu queixo e babam. gosto dessa família. quando vou-me embora de madrugada sei que a mais velha vai sonhar comigo mas a outra tem fome e fará um sanduíche de carne de carneiro com hortelã e uma pitadinha de manjericão...

minhas paixões são de lavas
meu coração é vulcão
sulcado em suas encostas...

... aprecio as hierarquias naturais. minha avó paira sobre todos. porte de mandona, matriarca, rainha. usa a tolerância como poucos. também a generosidade. todos lhe devem alguma coisa. a festinha de feijoada num sábado encalorado de salvador é tolerância. aos netos. a nós. os velhos conversam nas salas, o bufê é preparado. ela veio e está linda. pernas compridas, torneadas, coisa de satanás. cara de boneca. boca de pecado e perdição. no nosso quarto de portas envidraçadas pela metade não se vê o que se passa a oitenta centímetros do chão. eu aceno para a Vovó e as titias enquanto ela me fela. Não existe verbo felar, nós criamos. Eu fico vermelho e entusiasmado até o ponto de uma loura com cara de uva passa me indicar com as mãos que quer vir aqui. gozo fazendo que não com o dedo. elas engolem...

quando estou triste ou melancólico
faço boa poesia
ou quando estou eufórico
que nunca me lembro
ou quando estou bêbado.

... gosto de escrever para ninguém, como isso que escrevo aqui. sinto muito se você queria algo com senso e sentido. quando há sentido com certeza não há nada de mim.

Um comentário:

CRF disse...

Não procurar o sentindo das coisas, apenas vive-las, este sempre foi o caminho...