quinta-feira, 8 de novembro de 2007

A Noiva

Primeiro houve o meu estranho encanto
pelo farfalhar das tuas núbias saias
meias, ceroulas, bambolês e anáguas
sob sedas prateadas, delicado manto

sussurros e carícias, de tecido macio
quando te vestem tuas mucamas novas
azáfama que tão serena suportas
sem um único suspiro ou sinal de fastio

Depois, minha paixão foi por outro objeto
e era ao teu silêncio todo o meu apreço
pois que nunca te ouvi o menor ruído
apesar de tanto tempo sob o mesmo teto

e depois mais ainda, pela tua figura
teu busto bem feito, teus suaves quadris
tuas pernas longas, tuas mãos tão bem feitas
tuas coxas roliças, tuas carnes tão duras...

E então me perdi, definitivo e completo
por estas tuas maneiras, assim tão sutis
por estes teus olhares, assim tão profundos
por este teu jeitinho, assim tão quieto

e me perdi também pelos teus tantos cabelos
os loiros, os pretos, os castanhos, os vermelhos
e por este teu corpo lindo, sem nenhum suor
e por esta tua pele sem cor, sem marcas, sem pelos...

E então, eu meio louco, numa cena atroz
após tanto adorar-te em tua brilhante redoma
não mais suportei ficar longe de ti
e quebrei com uma pedra a barreira entre nós.

Não mostrastes surpresa, nem elevastes tua voz
quando dentro da vitrine, enfim, me vi
num smoking de noivo, posando ao teu lado
te sussurrando ao ouvido, "enfim, sós!".

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