segunda-feira, 24 de setembro de 2007

O Diabo Existe....

mas o diabo mesmo é como encontrá-lo. Ninguém sabe onde ele vive, por onde anda, que lugares freqüenta, se é amigo de quem. Alguns dizem de alguns que esses “fizeram pacto com diabo”, mas, procurados sobre o assunto, negam tudo: “mas que diabos! quem lhe disse isso?”. É difícil achar o Cão. De outros que teriam vendido a alma ao Bode Velho, ouve-se outro não: “vai-te pro diabo que te carregue, ô, e eu vendo minhas coisas para qualquer um?”. Faz sentido... Luiz Fernando, o Veríssimo, por exemplo, fez de tudo para encontrar o Coisa Ruim, sem resultado algum. Fez diabruras, não deu certo. Tentou o contrário, virtuose, religiosidade, até jejum, nada! Tentou procurar alguma pista entre as pessoas de mais sucesso (só podem ter vendido a alma ao Diabo, para subir tão rápido, etc...) e nada! Colocou anúncio em jornais, nada. Desistiu desses métodos e hoje vive entre Brasília e São Paulo esquadrinhando semblantes (algum sinal de baba ou chamas nos olhos?), examinando calçados (o Demo tem pés de bode), tentando perceber algum resquício de cheiro de enxofre ao redor, levantando chapéus e bonés (chifres!) e examinando lapelas, à procura de algum escudinho denunciador. Chegou a exultar com alguns políticos, mas nada conseguiu provar até agora e com certeza nada provará – vide Conselho de Ética e outros nichos onde o Bicho pode estar a se esconder...

Quando encasqueto com um assunto vou até o talo. Tentei alguns livros estrangeiros. Achei um texto do Umberto Eco. Senti dois arrepios. Reproduzia Michelle Psello (século XI). Da Atividade dos Demônios. Sobre os hereges: “À noite, quando se acendem os candeeiros e nós celebramos a paixão, eles levam a certa casa as moças que já iniciaram em seus rituais secretos, apagam as lâmpadas, pois não querem a luz por testemunha das indecências que acontecerão, despem-se a si e às moças e untam-se todos de óleos, e desafogam sua devassidão em quem estiver ao alcance, não importando que seja sua irmã ou a filha, na convicção de estar fazendo coisa aprazível aos demônios ao violarem as leis divinas que vetam a união com quem tem o mesmo sangue. Terminado o ritual voltam para casa e esperam os nove meses. Então, na hora do nascimento dos ímpios, frutos do ímpio sêmen, reúnem-se no mesmo lugar e após três dias arrancam os filhos das mães e os penetram em seus tenros membros com uma lâmina, juntam em taças o sangue que jorra...”. Eca! Lá adiante descreve-se o lançamento dos recém-nascidos, ainda enquanto respiram, às fogueiras, e a posterior mistura do sangue às cinzas para a mácula secreta de alimentos. Eca, eca e eca... Esse tal de Demônio era muito metal pesado pra mim. Engulhou-me de ler.

Tirando-se disso tudo o que pude aproveitar, fiquei com o registro de como essas coisas aconteciam e, passado o engulho no estômago, adorei a idéia de ir para uma casa com algumas moças, apagar as luzes e untar-nos a todos com óleos – naturalmente que essências maravilhosamente perfumadas e hidratantes – para desafogar a minha (nossa) devassidão. Só acrescentaria um fundo musical suavemente estimulante, uns clipes psicodélicos com pouca iluminação projetados em algum canto de parede, champanhe da melhor safra e uma bandejinha de queijos e camarões. E muito tesão! Iuhhhoooo! Meu Diabo é muito melhor do que o de vocês!

Nota: No altar desse templo, acima da bandeja e das garrafas, dos baldes de gelo e dos canapés, uma faixa com o lema da nossa futura congregação:

“Sacanum Nihil Salvatium Nobis Nulum”

que na língua mater (vai ser ruim assim em latim no diabo que o carregue!) significa, mais ou menos, isso aqui:

“Fora da Sacanagem não há Salvação!”.

Um comentário:

Anônimo disse...

e eu sou de romper pactos? jamais. li, arrepiei, até gostei.
beijo,
Dora