domingo, 30 de setembro de 2007

Sexo pelo sexo?

Fisicamente, tenho amadurecido a olhos vistos. Entrei de uns tempos para cá, por assim dizer, numa fase meio metálica, com essa prata nos cabelos, sinal de sabedoria e experiência, com esse cordão de ouro no pescoço, sinal de sucesso e conquistas materiais, com essa platina no pulso, sinal de discreta elegância... O problema é que o chumbo começa a se acumular no...s pés e as coisas de levantar começam a pesar demais.

Na parte espiritual também é fácil notar sinais desse meu amadurecimento. Perdi parte daquele ímpeto suicida à mesa. Também não tenho mais aquele entusiasmo selvagem na hora de trabalhar. E no sexo estou mais consciente, mais seletivo, não admito fazê-lo com qualquer uma, tem que haver muita coisa em comum, paixão ou amor, senão fica aquela coisa mecânica, sabe como é?

Quando saio à noite, por exemplo, tenho oportunidade de exercer essa postura mais digna, mais amadurecida, que estou adotando na minha vida atual. Não vou mais com tanta sede ao pote. Aprendi que a mulher é um bicho fugidio e traiçoeiro que só gosta de aparecer quando a gente está distraído e nunca se interessa quando a gente está ostensivamente à caça. Isso é experiência. Costumo logo classificar as mulheres em 3 grupos visando melhorar minhas chances: As berlotas, as mariotas e as sulancas. As berlotas são normalmente jovens demais, bonitas demais, metidas demais e não me darão mesmo. Descarto-as logo de cara. As sulancas são as que não me agradam no momento. São as feias, as antipáticas e as que eu já comi muito. Sobram as mariotas, aquelas que chegam vestidas para matar, com cara de “para quem eu vou dar hoje?” e nas quais concentro minha maior atenção. Não que eu esteja procurando sexo assim, só pelo sexo. Acho que as pessoas devem pelo menos se conhecer antes, não é? Porque senão fica aquela coisa mecânica, sabe como é?

O problema é que de vez em quando não acontece nada. Nenhuma mariota se abre pra gente. A gente fica ali tomando um drinque, dois, três, perde a conta, e nenhuma mariota! A gente acaba esquecendo a estratégia... Ah, se eu pegasse uma berlotinha dessas! Não que eu queira só beleza, sexo só por tesão, não é? Acho que as pessoas devem pelo menos saber o nome do parceiro, senão o sexo fica aquela coisa mecânica, sabe como é?

Como previsto, nenhuma berlota vai me dar. Os drinques continuam vindo e então o jeito é reclassificar as sulancas, já admitindo um repeteco, Descubro em ângulos inusitados traços clássicos no narigão daquela ruiva ali, ou a sensualidade surpreendente dos mamões daquela senhora de espartilho roxo acolá, bate uma saudadezinha das noites passadas com aquela amiga distraída ali, e fico pensando se alguma dessas beldades não toparia acabar esta noite nos meus braços. Nada de sexo somente pelo sexo. As pessoas devem ter algo em comum. Pelo menos estar disponíveis e meio embriagadas num mesmo momento, que isso é coisa do destino e ninguém pode desobedecer. Senão o sexo fica aquela coisa mecânica, sabe como é?

Pode, inclusive, no final, acontecer de eu ter que voltar para casa “na mão”, sem ter arranjado ninguém. Se a cozinheira do bar aceitar a carona e... não, não, deixa pra lá. Sexo não pode ser assim. A pessoa tem que pelo menos saber se a outra gosta ou não gosta de cebola, se come sarapatel ou não, essas coisas assim... Senão o sexo fica aquela coisa meio mecânica, sabe como é?

sábado, 29 de setembro de 2007

Tia Elvira e Sexo

Tia Elvira me inspira duas imagens muito simbólicas. A imagem de uma freira, Madre Superiora. E a imagem de uma rainha, Rainha Mãe. Tia Elvira tem essa estatura. Sabe-se que foi casada por pouco tempo, com um homem que lhe abandonou e desapareceu. Tia Elvira não se abalou. Colocou luto fechado e preferiu considerar-se viúva, como prefere continuar até hoje. A família, como sempre, deu-lhe todo apoio e respeitou sua opção. Para todos os efeitos o homem está morto e enterrado desde então e não se fala mais nesse assunto. Que Deus o tenha. Ou o diabo...

Encontramo-nos uma ou duas vezes por ano. Minhas conversas com Tia Elvira são sempre densas, embora cuidadosas. Trilhamos por assuntos neutros ou situações familiares já resolvidas, onde evito emitir opiniões ou na melhor hipótese concordo com o que ela diz. Tudo parece ter um peso excessivo, uma desnecessária formalidade. Quase nunca rimos. Durante todo o tempo, temo que por qualquer deslize eu possa ser condenado ao fogo eterno. Ou perder o seu aparente respeito, o que vem a ser quase a mesma coisa. Eis a minha postura ante Tia Elvira. Por isso o meu espanto quando, num papo despretensioso sobre um assunto qualquer ela disse:

--- Tudo na vida é sexo... você sabe. Não?

Apressei-me em responder:

--- Claro, claro, sei sim! Claro!

E fiquei quase zonzo de ansiedade esperando o que viria a seguir. Ela olhou-me demoradamente e disse:

--- Pode não ser a sua opinião...

--- Não, Tia! Concordo, claro, na vida tudo é sexo!

Ela me olhou franzindo os olhos.

--- Ops, desculpe. Tudo na vida é sexo, eu quis dizer...

--- Não precisa pedir...

Mantive-me em silêncio, aguardando. A ansiedade fazia meu corpo vibrar por dentro. Era tão inusitado! Tudo me dizia que seria um desses momentos-revelação, que mudam para sempre um relacionamento ou a vida da gente. E se ela quisesse me contar sobre sua vida sexual secreta? E se quisesse propor alguma sacanagem incestuosa? E se? E se? Ela continuava em silêncio. Andávamos pela calçada da praia e era final de tarde. Ela então apontou o azul mais profundo, da parte mais distante, no mar:

--- Naquela faixa ali, onde o azul fica mais escuro, em outubro, costuma-se ver as caudas das baleias que vêm procriar.

E então discorreu prazerosamente sobre a migração e a procriação das jubartes.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Ademais...

Sou, na vida, um amador. Vai entender...

Amador de pessoa que ama, que faz tudo por amor. Ainda não sei – a sério – que profissão me inclui. Fiz administração de empresas, fiz informática, trabalhei nessas coisas, fui empresário em informática e em hotelaria, fui empresário e administrador rural, hoje sou agricultor. Quase um camponês. Mas trabalho nisso com o mesmo interesse com o qual tiro fotos, escrevo ou pesco. Nada menos, nada mais. Engraçado, ainda ganho um dinheirinho para fazer algumas dessas coisas. Pior: quando trabalho para os outros, eles costumam me pagar! Vai entender...

Talvez eu seja ultra-sensível à natureza, às outras pessoas, ao que me rodeia. Um anti-autista, eu me definiria. Sofro por mim e por você. Alegro-me por mim e por você. Ver um belo pôr-do-sol pode apertar meu coração, assim como ver uma bela mãe a amamentar – mas nesse caso, involuntariamente, posso ter outras reações. Aliás, nesse campo particular, ainda vou entender porque mulheres chorando me enchem tanto de tesão... Assim como mulheres lavando roupa no tanque e mulheres que passam a escova nos cabelos, bem devagar. Assim como mulheres em outras atividades e posições. Vai entender...

Não tenho tendências homossexuais, não sou cheio de trejeitos nem tenho o perfil frágil e delicado – caricatural – das pessoas sensíveis, dos poetas, dos românticos menestréis. Sou, ao contrário, corpulento (o nome disso é gordo?), barbudo, meio abrutalhado e um tanto obtuso. Mas choro quando vejo a Marta jogar, entende? (Marta é a melhor jogadora de futebol do mundo, e está disputando mundial feminino na China, pela Seleção Brasileira). Choro quando leio a história de alguém pobrezinho, que vive à míngua ou teve que fazer um esforço heróico para melhorar. Choro quando vejo algo muito belo, ou quando ouço algo muito belo. Uma mulher bela demais é fatal. Se tiver a voz da Carolina, fodeu!

Acho que tenho um algum problema com isso. Vai entender...

Digo problema mas não acho que seja problema. Talvez eu queira dizer explicação. Ou não. Talvez eu queira dizer que sou diferente nisso em relação às demais pessoas. (Quase!). Vou confessar. Sem nenhum profissionalismo, desde a quarta linha dessa bobajada venho tentando encaixar um “ademais”, que acho lindo em textos. Ademazes me fazem chorar, eis aí mais uma questão! Se quer saber, digo questão mas não quero com isso dizer que me preocupo. Ademais acho até bom fazer as coisas assim, como um amador...

Yes!

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

O Diabo Existe....

mas o diabo mesmo é como encontrá-lo. Ninguém sabe onde ele vive, por onde anda, que lugares freqüenta, se é amigo de quem. Alguns dizem de alguns que esses “fizeram pacto com diabo”, mas, procurados sobre o assunto, negam tudo: “mas que diabos! quem lhe disse isso?”. É difícil achar o Cão. De outros que teriam vendido a alma ao Bode Velho, ouve-se outro não: “vai-te pro diabo que te carregue, ô, e eu vendo minhas coisas para qualquer um?”. Faz sentido... Luiz Fernando, o Veríssimo, por exemplo, fez de tudo para encontrar o Coisa Ruim, sem resultado algum. Fez diabruras, não deu certo. Tentou o contrário, virtuose, religiosidade, até jejum, nada! Tentou procurar alguma pista entre as pessoas de mais sucesso (só podem ter vendido a alma ao Diabo, para subir tão rápido, etc...) e nada! Colocou anúncio em jornais, nada. Desistiu desses métodos e hoje vive entre Brasília e São Paulo esquadrinhando semblantes (algum sinal de baba ou chamas nos olhos?), examinando calçados (o Demo tem pés de bode), tentando perceber algum resquício de cheiro de enxofre ao redor, levantando chapéus e bonés (chifres!) e examinando lapelas, à procura de algum escudinho denunciador. Chegou a exultar com alguns políticos, mas nada conseguiu provar até agora e com certeza nada provará – vide Conselho de Ética e outros nichos onde o Bicho pode estar a se esconder...

Quando encasqueto com um assunto vou até o talo. Tentei alguns livros estrangeiros. Achei um texto do Umberto Eco. Senti dois arrepios. Reproduzia Michelle Psello (século XI). Da Atividade dos Demônios. Sobre os hereges: “À noite, quando se acendem os candeeiros e nós celebramos a paixão, eles levam a certa casa as moças que já iniciaram em seus rituais secretos, apagam as lâmpadas, pois não querem a luz por testemunha das indecências que acontecerão, despem-se a si e às moças e untam-se todos de óleos, e desafogam sua devassidão em quem estiver ao alcance, não importando que seja sua irmã ou a filha, na convicção de estar fazendo coisa aprazível aos demônios ao violarem as leis divinas que vetam a união com quem tem o mesmo sangue. Terminado o ritual voltam para casa e esperam os nove meses. Então, na hora do nascimento dos ímpios, frutos do ímpio sêmen, reúnem-se no mesmo lugar e após três dias arrancam os filhos das mães e os penetram em seus tenros membros com uma lâmina, juntam em taças o sangue que jorra...”. Eca! Lá adiante descreve-se o lançamento dos recém-nascidos, ainda enquanto respiram, às fogueiras, e a posterior mistura do sangue às cinzas para a mácula secreta de alimentos. Eca, eca e eca... Esse tal de Demônio era muito metal pesado pra mim. Engulhou-me de ler.

Tirando-se disso tudo o que pude aproveitar, fiquei com o registro de como essas coisas aconteciam e, passado o engulho no estômago, adorei a idéia de ir para uma casa com algumas moças, apagar as luzes e untar-nos a todos com óleos – naturalmente que essências maravilhosamente perfumadas e hidratantes – para desafogar a minha (nossa) devassidão. Só acrescentaria um fundo musical suavemente estimulante, uns clipes psicodélicos com pouca iluminação projetados em algum canto de parede, champanhe da melhor safra e uma bandejinha de queijos e camarões. E muito tesão! Iuhhhoooo! Meu Diabo é muito melhor do que o de vocês!

Nota: No altar desse templo, acima da bandeja e das garrafas, dos baldes de gelo e dos canapés, uma faixa com o lema da nossa futura congregação:

“Sacanum Nihil Salvatium Nobis Nulum”

que na língua mater (vai ser ruim assim em latim no diabo que o carregue!) significa, mais ou menos, isso aqui:

“Fora da Sacanagem não há Salvação!”.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Meu nome é Skzwlinsky...

porque meu pai, polonês, me batizou assim. Nasci perdendo. Virei Isquize, por obra e graça de um amigo de infância e assim fiquei. Virei menino, virei rapaz, veio a estupidez. Casei-me com Laura, a menina mais gostosa da rua. Só de pirraça, da parte dela. Mudamos para um bairro classe média, arrumei um emprego de corretor. Depois de um ano Laura se revelou. Acho que é assim que acontece em todos os casos. Casamentos. Liberou a jararaca que havia em seu interior. Na minha rua tinha um casal recém-casado, Lilian e Rodolfo. Lilian era pior do que Laura, não sei como o Rodolfo suportava. Simpatizei-me com o cara por causa dela. A rua toda. O Rodolfo era perfeito. E então aos poucos, nas nossas casas, o que se ouvia era que o Rodolfo sim, que era marido, que o Rodolfo sim, que era pai, que o Rodolfo sim, que tinha atitude, que o Rodolfo sim, que seria de nós... Na medida em que isso acontecia, fui antipatizando-me com o cara. A rua toda. Em toda casa a mesma ladainha. Rodolfo isso, Rodolfo aquilo, um dia a Laura disse: Se fosse o Rodolfo não esqueceria a data de aniversário do nosso casamento... Soube que ele deu até um anel de brilhantes, lindiiiíssimo, para a Lilian. Mandei a Laura, o Rodolfo e a Lilian à merda. Porra, não se pode esquecer nada, é? Um dia chegou a notícia: Rodolfo e Lilian se separaram. Apurado melhor, a Lilian tinha fugido com o Renato, um primo antigo, e deixado o Rodolfo na mão. Então a Laura veio de novo com aquilo, o Rodolfo é atencioso, é bem-educado, não fica se entupindo de cerveja como vocês, não faz mulher nenhuma passar vergonha, eu queria ver a porra do jogo na televisão e essa ladainha, Rodolfo isso, Rodolfo aquilo, eu me levantei e fiz um gesto ameaçador, ela parou por um instante, eu lhe disse: Vão se foder, você e o Rodolfo! Ela fez as malas e foi. Estão juntos até hoje. Olha, eu conheço a Laura. posso não conhecer a Lilian, mas a Laura eu conheço. Comecei a simpatizar de novo com o rapaz...

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Um Girassol Pode Ser Assim?


Interior de um girassol que eu mesmo plantei no meu jardim. Usei Sony H9 com função Macro.

Dona Canô e o Slow Down

Dormi poeta, acordei filósofo. Culpada de tudo, Dona Canô, cem anos completados ontem, que fechou a minha noite cantando na TV com os filhos ilustres, Caetano e Betania, e acordou-me hoje na TV explicando com a simplicidade própria como chegar bem aos cem anos de idade: “É viver com calma, procurando sempre ser feliz!”. Nada mais baiano do que isso, não é? Alguém ao meu lado comentou: “Isso é balela, conversa de baiano, a gente tem é que trabalhar muito para sobreviver ou então virar político e ladrão, não se tem mais tempo para ser feliz. Hoje, meu amigo, com esse mundo globalizado, quem parar para ser feliz vai é dançar!”.

Lembrei-me de imediato de um movimento, começado na Europa, que vem ganhando força, chamado Slow Down. Defende a adoção do tempo mais adequado para cada tarefa, projeto, atividade, desconsiderando a pressão e a pressa. É o reviver do “devagar se vai ao longe” e do “a pressa é inimiga da perfeição”. É a valorização da qualidade sobre a quantidade. É a constatação da importância do prazer cotidiano, do ócio positivo, da convivência com a família e com as pessoas que amamos, é um brinde à boa mesa, à boa cama, à boa conversa, à generosidade, à amizade, ao amor. É o abaixo o fast-food, abaixo o agora e já! É reconhecer que o único tempo que existe é o presente e que num único minuto podemos viver toda uma vida – e que não faz sentido passar a vida correndo à procura da felicidade em apenas ter mais, apenas ganhar mais, apenas chegar na frente.

Durante muitos anos trabalhei em empresas de grande porte. Presidência, Diretorias, Departamentos, Divisões, Seções, Sub-seções e o escambau. Milhares de pessoas tocando dezenas de projetos, indo e vindo em várias direções, sofrendo pressões de todos os lados, lutando para não ser ultrapassados, para manter o seu emprego, para sobreviver. E batendo papo, passando emails, lendo revistas, fazendo joguinhos, fazendo política, gastando o TEMPO determinado ao trabalho em atividades que nada têm a ver com esse fim. Trabalhássemos menos horas e mais satisfeitos, com certeza absoluta renderíamos muito mais.

Certos estão os europeus do slow down, é preciso ser sensato nos prazos e dedicar o tempo certo ao descanso, ao convívio com a família e os amigos e ao lazer. Certíssima está Dona Canô, que teve tempo e sabedoria para procurar primeiro ser feliz, para conseguir viver cem anos satisfeita e em boa saúde, tendo força e vitalidade para, com toda afinação, ainda cantar. Viva o Slow Down! Viva Dona Canô! Amém...

domingo, 2 de setembro de 2007

Domingos vaz(d)ios...

Meu Diário: Domingo, 02 de setembro de 2007

Acordei descansado. Não fiz farra ontem, a garganta doía e o fim de mês exigia umas providências de última hora que me deixaram exausto.

Reservei o domingo para almoçar com os filhos, que não vejo há uns dias. Ligam avisando que não vai dar, têm um almoço com a turma. Convidam para a pizza à noite. Ok. Fazer o que?

Merda. Dispensei bons programas antes de saber que não ia dar para vê-los. Mas, enfim... Só me resta relaxar. Vamos aproveitar o domingo para um verdadeiro descanso, de corpo e alma. Música, livros, filmes, estão todos aí. Telefone.

- Oi, está sozinho aí?

- Hem, não... Estou com um pessoal.

- Que pessoal?

- Ah, os funcionários da fazenda. Fim de mês, acertos, sabe como é...

- Posso ir aí?

- Não! Não é boa idéia...

- Por que?

- Você sabe, prefiro quando não há ninguém aqui, prezo muito essa discrição, não gosto que participem da minha intimidade...

- Você pode vir aqui?

- Mas... e o seu marido?

- Viajou. Foi pescar.

Uma porra que eu entro nessa.

- Obrigado, amor, mas tenho mais umas coisinhas para resolver aqui...

- Eu espero, meu lindo.

- Outro dia, linda.

- Amor, estou ficando molhadinha com esse papo de dificuldades que você fica falando aí.

Ah! filha da puta, mulheres têm mil e setecentas malazartes do diabo!

- É?

- Você nem imagina quanto...

- Mas não posso, linda, nem receber você nem ir aí. Deixa para amanhã.

- Fiz torta de bacalhau hoje pra gente almoçar.

Ah! filha da puta! Sabe que não resisto a sua torta de bacalhau...

- Porra, benzinho, assim não vale! Fez mesmo, é?

- E estou com aquele vestidinho de saco de gafieira que você adora...

Fudeu. Os meninos ligam pelas nove da noite, digo com convicção que já estou na cama, com febre de garganta e dor-de-cabeça, prometo nos encontrarmos no almoço de amanhã, ligo a água quente para regular a temperatura da banheira e tomo mais um gole de uísque do copo que compartilhamos. Ela, brejeira, divina e graciosa, me faz uma confidência: o corno só volta amanhã... Uso os óleos essenciais. Ela diz: ai, neguinho, assim eu posso até desmaiar de tanto gozo...

Tem domingo que começa de um jeito e termina de outro jeito, né?