quarta-feira, 26 de novembro de 2008

É Rata


Não seria isso matéria da psicologia? Filosofia inclui? Sociologia? Para quem está perdido qualquer atalho é estrada...

Mais Filosofia e Desisto

O que causa mais um copo. Esse roçar de pernas pode significar. Essa moça em minha frente é bem gostosa. Prometo-lhe mandar a lista. Prometo lhe recomendar. Dar um livro de presente. Concluo que sou generoso porque desejo exercer poder sobre as pessoas que ajudo. Que estão na minha primeira infância as razões pelas quais sinto tesão por todas as mulheres gostosas. Que ser generoso com uma mulher gostosa me faz duplamente culpado. Que filosofia é coisa de maluco. Procuro outra mesa onde falam de futebol e peço ao garçom para trocar meu copo. Vamos ver agora a situação dos cinco primeiros colocados da primeira divisão...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Filósofo Eventual

A que me destino não me interesso. Como indivíduo. Descubro-me filósofo. Melhor que isso. Irmão do mundo. O negro e o japonês, o rico e o bobo. Relativismo. O grão insignificante, no areal. A gota indissolúvel e definitiva, amalgamada e nada, nos oceanos. Corte. Outra dimensão. Entre pares, entre filhos, entretantos. Prego a fluição e a fruição, livres e completos, como casca de noz em dia de enxurrada, pelas sarjetas. Prego a atenção aos sinais. Como duas castanhas, bebo um cálice de vinho tinto, dissolvo meu colesterol em banho-maria, colé, esterol?! Olho e entre todos todos me ouvem menos um, que sou o próprio. Não falo mais nada. Só mais um copo.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Peixe é Muito Bom!


Peixe é bom.
Gosto de peixe.
Adoro peixe.
Amo peixe.
Sou louco por peixe!

Por isso vivo a pescar...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

O GPS e A Chuva do Rio

(Drama que uma amiga me contou - em 17/11/2008, dia da chuva)


Tem dia que é. Hoje. Chove a cântaros no Rio. Anoitece. Continuo no local de trabalho esperando a chuva diminuir, depois a água baixar, depois o entupimento desentupir. Meu estresse é máximo. Dois dias antes descobri que minha filha apanhava do namorado. Fui conversar com o rapaz e com a sua mãe, e ele quase me agrediu. Indignada, levei minha filha, o namorado, a sogra, todo mundo para a delegacia, onde registramos queixa e cumprimos nosso papel de cidadãs. Só assim para colocar limites nessas situações.

Meu ex-marido não gostou que eu tomasse essa atitude. Isso, mais do que tudo, me deixou ultra-estressada. Nem consegui me alimentar direito. Mas logo, logo, estarei em casa, em Niterói, tomarei um bom banho, uma sopa, talvez um bom vinho e dormirei uma noite justa. A chuva diminuiu. Acho que dá para arriscar tomar a barca. O telefone toca. É o canalha me dizendo poucas e boas. Meu ex-marido, não o garoto. Exatamente quando mais preciso de apoio, o covarde vem com isso de não ser do seu estilo. Desligo furiosa. Minha indignação não tem limites. Ando alguns passos e as luzes do Rio se apagam. Todas, aos poucos. As sombras giram, tenho consciência que estou a pifar... Um senhor me ampara, até que eu me recupere.

Deve ser porque estou a tanto tempo sem comer. Vejo que não tenho condições de esperar a barca. Agradeço ao homem e pulo para dentro de um táxi. Alguma clínica, por favor! Mas como, minha senhora? Nesse engarrafamento não podemos ir a quase lugar nenhum! Oras, algum hospital, um hotel, qualquer lugar, qualquer um!

O táxi me leva ao Íbis num trajeto fantástico, de luzes rodopiando, miríades, sons desconexos, tudo entrando e saindo como ondas em minha cabeça. Pago o táxi e entro. Num hotel pelo menos terei algo, um certo conforto, um quarto, uma cama, um banheiro, posso tomar minha sopa com calma, me recuperar totalmente e ver o que faço depois. Mas é o Íbis. Subo ao apartamento e busco o cardápio. Uma bela sopa de legumes e macarrão! Disco o número da cozinha. Não servem no apartamento. Tento me levantar mas não consigo. Assusto-me com o meu estado. Num esforço, alcanço de novo o telefone e ligo para o primeiro numero que me vem à cabeça, logo para quem? Meu ex. Ele diz que sente muito mas nada pode fazer, e manda-me procurar um antigo namorado espanhol, de quem ele tem raiva mesmo sem conhecer. Disco ainda para uma amiga médica, mas com o Rio totalmente alagado ela diz que não pode sequer pensar em ir até onde estou. Sorry!

Respiro fundo, tento me mover. Agora vai. Lavo o rosto e dou um jeito no cabelo, desço pelo elevador e chego um minuto depois de terem fechado o restaurante. Ainda vejo terrinas fumegantes. Imploro que me deixem entrar, mas uma governanta alemã fecha a porta impiedosamente, fazendo ouvidos moucos aos meus pedidos de “pelo menos uma colher de macarrão, moça, por favor!”. É como um filme de terror. A cabeça gira novamente. Volto ao elevador, vejo a enorme fila de botões serpentear à minha frente, cada vez mais alto, cada vez mais alto... sou eu que desço até o piso, sem conseguir sequer falar. Um moço que está no elevador sentencia, em voz alta e esganiçada: Ela tem diabetes! Metem um cubo de açúcar em minha boca. Reajo, meio abobalhada, tentando me levantar. O homem volta com uma enorme barra de chocolate que engulo como uma esfomeada. O mundo parece se colorir aos poucos, cada vez mais, minha respiração regulariza-se, sinto um conforto raro até então. Sorrio, sem graça e agradeço, vou ao meu apartamento e recolho minhas coisas, pago a conta e entro no primeiro táxi.

Pela primeira vez na noite sinto-me segura. Niterói, por favor! O taxista é um negro enorme, pesando mais de 130 quilos. Coloca o cinto, liga o taxímetro em bandeira dois, liga uma fileira de botões, tecla algo num aparelho instalado à sua frente, no painel, e arranca. Voilá! Intrigada, pergunto o que é aquele aparelho. É um gepeésse, madame, custou quais dois mil real. Uma voz feminina, sinuosa, sensual, se faz ouvir dentro do carro: Você vai dobrar à direita, daqui a cem metros. Ele provavelmente sabe o que é direita e o que é esquerda, mas não tem a menor noção de quanto sejam os cem metros. Dobra uma esquina antes. A voz feminina agora parece impessoal e o recrimina, avisando que terá de recalcular o trajeto. Caralho! O cara não sabe como se vai daqui para Niterói! O cara tem um GPS e não sabe usar! É hoje! Segue a briga do taxista com o GPS enquanto nos embrenhamos cada vez mais por ruas menores, adjacentes, perigosas, e absolutamente desconhecidas para ele e para mim. O taxista parece absolutamente perdido, e está cada vez mais nervoso. Mexe no GPS, troca o destino, sei lá o que faz. Tento orientá-lo, sugerindo caminhos. O GPS também. Eu digo: agora pega à esquerda! Mas a voz sensual diz que ele deve seguir por duzentos metros antes de virar à direita. Ele não segue nenhuma coisa nem outra. Ficamos girando perigosamente. Começo a gritar. Ele aumenta o volume do GPS na mesma proporção. De negra, sua pele já está cinza. Sua preocupação me deixa alarmada. Ele começa a xingar. Encho os pulmões e grito, acima de qualquer outro som: pára essa merda, caralho! Desliga essa porra desse GPS! Aperta o botão, tira o fio, dá um murro nessa porra! Pára!!! Eu sei como se vai para Niterói!

Entramos numa avenida relativamente movimentada e ele desliga o GPS e pára o carro. Saio e dou a volta, sento-me ao seu lado e digo: você agora vai para onde eu mandar, ok? Ele nem vacila: sim senhora! Rapidamente chegamos à perimetral que leva à ponte e vejo-o suspirar de alívio. Ele então confessa que só conhece, do Rio, Jacarepaguá. Porra!

Meia-noite. A pista não tem movimento e ele enfia o pé. Cem por hora, cento e vinte, cento e cinqüenta, eu grito de novo: pára essa merda! Diminui! Cacete! Ele volta para cento e vinte, depois para cem, sempre perguntando se está bom. Agora é questão de tempo, mas não deveremos ter outros percalços. Finalmente relaxo. Vento frio no rosto, a sensação de que nos livramos de uma boa. De dentro de mim, bem lá de não sei de onde, vem uma onda a me torcer o corpo, uma onda leve, boa, uma vontade louca de gargalhar. Sinto o seu corpanzil estremecer, provavelmente lhe acontece o mesmo. E então começamos. Abro o vidro do meu lado. Hahahaha! Ele abre o seu. Haaa-Haaa-Haaa!!! E uma gargalhada provocando a outra, cada vez mais fortes, em perfeito sincronismo e num fenomenal desabafo, vamos deixando pelo caminho todos os motivos pelos quais não gargalhamos nos últimos momentos, horas, anos, dias...

Se você passou, pois, por uma perua amarela, grande, chevrolet, com um negrão enorme ao volante, vidros abertos e mulher com cara de desesperada ao lado, se ouviu os nossos guinchos no meio da quase madrugada, risos do demônio, gargalhadas do caramunhão, éramos nós!

Gil, era o seu nome, só parou de gargalhar quando chegamos à minha rua. Eu já não conseguia mais tirar som nenhum das minhas cordas vocais. Ele ainda se desculpou, verdadeiro gentleman, e quis cobrar menos que o taxímetro marcou. Deixou-me seu cartão, para que um dia desses pudéssemos tomar um café...

domingo, 16 de novembro de 2008

Gira-bomba



O garoto não deve ter mais que 12 anos. Monta um cavalo em pelo. Como se fosse um brinquedo, sem rédeas, sem nada, comanda o bicho com a pressão das pernas e algumas puxadas na crina. Vem buscar água de beber para o tio, que está no mato consertando cercas. É um garoto forte, de cabelos crespos e olhos desassossegados.

- Ontem entraram lá na casa do tio e roubaram as coisas dele...

Eu já soubera mas mostro-me interessado. Ele nem desmonta, apenas entrega a garrafa ao meu empregado e espera ali mesmo, defronte da porteira ainda fechada.

- Eu voltava para casa e vi a porta aberta, as coisas viradas de cabeça pra baixo, corri na casa da vizinha, mas ela estava com o diabo nas costas...

Nunca ouvi essa expressão antes. Agora interesso-me de verdade.

- Diabo nas costas?

- É. Estava com o diabo nas costas.

- Como assim?

- Ela estava no mato em frente à casa, rolando no chão e gargalhando.

- Oxe!

- Dizem que ela é gira-bomba. O marido e os filhos estavam segurando ela.

- Ela não estava bêbada?

- Faz tempo que ela não bebe, não senhor.

- Gira-bomba?

- É! Quer dizer, falam que ela é gira-bomba, essas pessoas que fazem esse negócio de macumba lá...

- Não seria pomba-gira?

- Não! É pomba nada, é macumbeira, ela! E estava com o diabo nas costas.

Pega a garrafa e faz o cavalo voltear, saindo em disparada na direção do mato fechado, onde o tio conserta a cerca e a pomba gira.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Canalhas e Cafajestes

Segundo Carpinejar, professor no assunto, poeta e escritor:

Cafajeste é o homem que trai, engana, mente, enrola as mulheres. Tem pouco caráter. Não respeita a companheira. Muitas vezes exerce a cafajestagem com tal competência e maestria que passa por pessoa decente e homem exemplar. Muitas mulheres gostam do tipo.

Canalha é um outro tipo, muito mais sofisticado. O canalha confessa. Logo de cara. Diz que tem outra, diz que não quer fazer ninguém sofrer, diz que lhe ama mas não pode assumir compromissos, diz que só tem outra por força das circunstâncias, e sendo sincero ao seu modo mantém relações paralelas por todo o tempo. Administra as diversas relações usando a sinceridade como principal arma.

Não sei se é melhor ser Cafa ou ser Cana.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Fugidia

vi teu sorriso, fugidio. como um raio. que me rachou ao meio. dedicou-me um medo misterioso que nos protege aos dois. como se um outro raio estivesse pendurado. pronto. sobre nossas cabeças. e o nosso amor fosse romper a corda. acorda, fugidia! o amor ajunta, cola, funde. o que divide é a ausência do presente, sem nenhuma noção.

bush ordenou guerras e subvencionou a economia americana. lula queria ordenar uma guerra ao butão, mas o comunicado foi parar no pelourinho, em salvador. e então preferiu-se fazer propaganda do pré-sal e da reforma aquária, coisa mais hilária, um barril de petróleo retirado das raízes das ameixeiras japonesas e custando quase cento e cinquenta dólares o barril. o rei de butão anda nu.

meu cachorro faleceu ontem pela manhã, numa prova inconteste de que preferia a liberdade da alma ao jugo das correntes. era um cão indomesticável. como um tamanduá. fica o meu respeito. já tinha a minha admiração.

ontem eu vinha andando pela rua quando vi um velho, mendigo e poeta, dedicando uma poesia muito obscena à bunda de uma mulher gorda que entrava e saía de uma farmácia, próxima ao lugar onde o dito poeta faz ponto. a parte obscena da poesia era um verso. bunda que se preze não perde homenagem à toa. enquanto ele falava num certo "cu gordo que me estima", a mulata rebolava sem atentar na rima, numa boa. seu sorriso maroto e contido tirava o constrangimento da cena.