quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Cartas do Sítio

Minha Tia Elvira

Estimo que passe bem. Aqui vão algumas notícias do sítio:

Aqui chove um dia e faz sol dez. Ilude a gente. O que se planta tem que regar. Parte perde-se. O sol é inclemente. Lugar comum. Aqui é um lugar comum.

Apareceu outro tatu. Maior. Os homens do mato são práticos como as putas. Pegou, é de comer, mata-se, limpa-se, moqueia-se, tempera-se, prepara-se, come-se. Peba na pimenta e festa. Pinga. De tempos em tempos pinga uma noite assim. Proseia-se, bebe-se, cala-se... Come-se um tatu e elogia-se. Os homens das leis adoram comer tatu, paca, veado, capivara... De fiscal a juiz. A senhora sabe quem.

Um único pé de jaca tinha cento e oitenta e três frutos. Derrubei quase todos, verdes, maduros e pecos, porque podiam cair na minha cabeça, no meu carro, na minha casa. Deixei dois, numa posição boa, para derrubar de tiro.

Os cachorros brigam. Pai e mãe entre si. Os dois irmãos entre si. Os quatro entre si, sabe-se lá de que lado cada um. São cinco cães. Quatro de raça, boxer, adultos, bonitos, pesados, que se estraçalham entre si. O quinto cão é o Sheid. Sheid Pulga, que tem nome e sobrenome. Esse só late e aprecia. Arrodeia os brigões, arreganha os dentes, faz mais barulho que os quatro juntos, salta, late, late, late, mas não se arrisca. Mantém distância cínica, a salvo das dentadas mas privilegiado espectador. Penso que ele torce para algum, mas nunca me ocorreu para quem...

Minha horta será transplantada para dar lugar a um ofurô de pobre, que acabei de inventar: uma caixa dágua de fibra de vidro, de 1.500 litros, cortada para ficar mais baixa e com um buraco no fundo, onde é soldada outra caixa de fibra de vidro, de 310 litros, também cortada. Essa coisa será instalada de modo a ficar quarenta centímetros aflorando do chão da varanda, numa espécie de deck de ladrilhos que hoje já existe e circunda a horta que se vai. Meu ofurô pop acomodará bem sentados até seis pessoas, que poderão desfrutar as delícias de uma água fresquinha até os ombros, nesse verão infernal, batendo papo com quem estiver no ofurô ou na varanda, tomando uma cervejinha gelada ou uma batida de abacaxi com hortelã, relaxando, enfim... Sou pobre mas sou marrento, mané! A senhora não é mané, é só modo de dizer.

Os gansos pularam de quatro para dez. Os perus tiveram dez filhotes mas só sobraram três. Os cocás são mais de cem e voam como perdizes. As galinhas, em algum momento, chegarão a duas mil. Os pés de urucun floram e formam cachopas, de tom vermelho e marrom. Plantei outro tanto e outro tanto plantarei. Apesar do sol inclemente desse lugar comum.

Eu engordei e estou preto que nem um caboclo. Aquela moça diz que devo me cuidar mas que não liga para minha barriga e sim para o meu pau. A senhora acredita?

Um beijo no coque. Do seu sobrinho que muito lhe preza.

P.

Um comentário:

Anônimo disse...

Perfeito!!!
Guarde um lugar para mim no ofurô...
Beijo