sábado, 23 de fevereiro de 2008

Meu Diário – 23/09/2008

Blogs, creio, têm essa clara vocação. Por isso de hoje em diante pretendo registrar aqui somente o mais relevante da minha existência. Deus me ajude.

Faz um tempinho que não escrevo. Isso é bom, a gente junta assunto e não escreve sob a pressão de prazo. Por isso de hoje em diante pretendo registrar aqui somente o mais relevante da minha existência, mas de forma bissexta, com freqüência variada. Deus me ajude de novo!

Hoje acordei assim, falando pelos cotovelos. Sempre que isso acontece eu me lasco. Minha empregada foi-se embora com um senhor novo rico do Rio de Janeiro. Meus dois filhos trouxeram nove amigos aqui, para entre outras coisas cortar o cabelo raspadinho, fazer um grupo de carecas mal-encarados do bem. Minha casa virou um chiqueiro. Pacientemente vou lavando e limpando o que dá tempo. Ontem foi a vez da cozinha. Levei três horas nessa tarefa. Descobri que minha empregada escondia a sujeira debaixo da geladeira e dos armários. Deve ser por isso que comecei a pensar em uma mulher de novo...

Semana passada levei uma garota a um motel. A gente se conheceu antes, houve aquele entusiasmo mútuo mas ela estava com um namorado, adoro esse tipo de respeito que algumas mulheres demonstram pelos namorados. Tendo se livrado do namorado ligou pra mim. Estou desacostumado. Ela, bem mais desenvolta, sugeriu um motel luxuoso da cidade que eu não conhecia. Fui topando as coisas que ela sugeria, meio sem ter outra opção, e admirei-me porque ela parecia tão mais à vontade do que eu. Um problema monstruoso me atormentou o tempo todo: eu havia esquecido seu nome, embora ela tivesse se identificado quando ligou. Na dúvida, chamei-a o tempo todo de “delícia” e “minha lindinha”, que eu abomino. Mas ela, sei lá se também esquecida do meu nome, passou o tempo todo me chamando de “meu lindinho”, portanto... Foi uma bela noite e deu empate técnico no final. Resolvi fazer um teste-drive e convidei-a para no dia seguinte passar a tarde aqui no sítio.

Mulheres são sempre mulheres. Minha adorada piscina, estilo ofurô que aqui batizamos de Oh-Rachou (homenagem a minha filha Carol que ao ver as rachaduras na fibra de vidro da primeira versão fez essa exclamação) foi logo humilhada (por que você colocou essa caixa dágua bem aqui na entrada?), meus sete pares de havaianas na porta (ih, isso está precisando de uma arrumação), meus adorados painéis de fotos (eca! deve ter até foto de gente morta aqui!), meu resfriador abarrotado de bebidas (pelo jeito isso aqui deve ser bem animado, imagino com que tipo de gente!) e etecétera. Não adiantou o “adorei tudo, principalmente você” no final, a desgraça estava posta e eu nunca mais vou ligar para essa vaca!

Por isso ontem lavei a minha cozinha por mais de três horas. Com todo prazer. Hoje ataco os sanitários e a salinha de estar. Sozinho, pacientemente, como haveria de ser...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Mais Confissões de Um Pervertido

Engenharia Reversa de Um Poema
(ou minhas engrenagens à mostra)


Paixão e Sexo. Mercadorias que aprecio. Nada que se compare ao amor verdadeiro por uma mulher, mas aonde? Mulheres, aliás, parecem preferir outra matéria, que tecnicamente podemos chamar de “relação conseqüente”. Ponha-se sobre o prato a idéia de culpa e pecado que nos incutiram as gerações antecedentes. De sobremesa o romantismo incutido desde longas épocas nas cabecinhas das nossas meninas e então se compreende o príncipe encantado, o castelo, a eterna lua-de-mel de sonhos e os milagres que elas incessantemente procuram em cada relação. Ah, mulheres...

Salvo boas e raras exceções, mulheres desencanadas, práticas, coerentes e sensatas (convenhamos, muito boas e muito raras), as outras só complicam. Complicam a minha cabeça. Enquanto procuro uma boa e saudável parceira para namoro e sexo sem restrições ou cobranças (e só! até que nos encontremos outra vez), só encontro mulheres que querem antes avaliar a nobreza das minhas intenções, a real dimensão dos meus sentimentos, a possibilidade de uma relação estável e duradoura a partir daquilo, ou seja, querem discutir a relação antes dela mesmo começar! É duro...

Como não discuto com o destino (parodiando o Leminsky), enfrento-as com galhardia e otimismo. O diabo é que eu sou fácil de gostar. E não quero fazer sofrer ninguém de quem eu gosto. Entendeu o nó? Também sou péssimo em mentiras, tanto que nem tento. Logo, logo, escancaro minhas intenções e me lasco.

Tem dia que acordo pensando nisso. Quando penso demasiadamente em alguma coisa tento encerrar o assunto escrevendo um poema. Me transporto. Me coloco no lugar de quem elas pensam que sou, mas que não conseguem me convencer disso. Canalha, calhorda, galinha, infiel e tarado são alguns adjetivos que carrego. Fico mal, quando os encarno. Meu cerne é nobre. Há um conflito. Hoje escrevi esses versos.

O amor em mim é tumulto.
Sou franco.
Franco atirador de paixões.
O meu alvo é só um vulto
que veste muitos corações.
Uma multidão de amantes.

Tento justificar o que seria, mas não sou. Oras, sou um homem saudável, limpinho, escovo os dentes depois das refeições e tomo 3 banhos diários inclusive um antes de dormir, não reclamo da vida, não me queixo da sorte, não sou dado a cobranças e até já deixei o hábito de me virar para o outro lado depois de um bom sexo. Eu até converso, nessas ocasiões! Só porque procuro um bom namoro sem maiores conseqüências querem me fazer acreditar ser esse monstro, humpf!

Tomei do cupido o ofício
e disparo a esmo
em meu próprio benefício.

Tento me vincular a algo nobre e simpático. Cupido. Fazê-lo em meu próprio benefício é detalhe...

Tomo teu corpo em minhas mãos
como alimento.
Pratico o ritual que desejas
alivio o teu sofrimento
e iludo tua alma
mas não a minha.

Olha, sinceramente, eu não sofro com isso. (Epa, isso é um comentário, não um verso)

Sedução é apenas um exercício.
O amor em mim é tumulto
que vira minha alma ao avesso
e obedece apenas ao meu corpo.

Eis o involuntário, o desgovernado, a minha falta de culpa pelo que acontece. É a natureza, bobinhas!

Com meu corpo em tuas mãos
tens apenas o momento.
O amor em mim é tumulto
prazer de um só instante
angustiado lamento.

Lamento? Ah, tá... Delas. (Achei esse comentário muito cafajeste, aliás esqueci desse adjetivo na lista ali acima).

Pois é. Exorcizo assim esse ser nobre e complexo, cheio de culpas e pecado, no qual me transformei por instantes no poeta que escreveu isso tudo aí. Sai de mim, demoníaco ser escravo do sexo e do pecado, esse corpo não lhe pertence! E volto então, sereno e tranqüilo, ao meu ofício.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Gaia e os Vermes

Hoje é domingo e ontem não consegui seduzir uma moça porque fui sincero demais. Tudo em excesso é sobra. Como o meu entusiasmo não era tanto assim, também não me incomodei muito e fui ver o Beiçola no Altas Horas. Afinal, depois de um certo tempo fica tudo muito igual. Mulheres são seres muito especiais e complexos. Saudade de Maria Tetê, que sempre que me visitava ou me recebia perguntava logo: o que vai ser? trabalho, papo-furado, namoro ou tiramos a roupa? Nunca vi Maria Tetê perder um amigo. Pena que um finlandês a levou, faz uns anos, e nunca mais...

Dormi pouco mas acordei com vontade de fazer algo diferente nesse dia claro e escaldante. Experimentei fazer um café especial mas tudo que tinha em casa era pão embolorado, aipim e dois ovos. Descartei o pão, comi aipim com ovos e tomei café com um pingo de leite desnatado. Estou em plena dieta para emagrecer, com 4 quilos de resultado em 30 dias. Daqui por diante será mais duro, eu sei. Aipim com ovos não é dieta? Você é que não sabe do que eu era capaz...

Tento fazer um poema, sai tristonho, não combina com o dia:

Flutuo entre escolhos nesse mar revolto
destroços dos meus mais recentes naufrágios
como uma cabaça vazia sem razão e sem rumo
exatamente do jeito que vivo, ou do jeito que morro.
Meu destino estará por certo em qualquer norte
e num dia qualquer acabarei chegando em algum porto
o meu futuro está pois sujeito a toda sorte
exatamente como hoje sobrevivo, vivo ou morto.

Ficar dias e dias sem beber me deixa doentiamente sóbrio. Esperar pelo meu amor definitivo me deixa ansioso. Esperar ganhar na mega-sena me deixa desanimado. Esperar que a chuva caia do céu me deixa resignado. Cada coisa que acontece, cada coisa que não acontece, resulta num sentido. Acho que é por isso que falam em Gaia, a Terra Mãe. Eu sou um verme dessa coisa toda, mas tento desesperadamente não ser um verme canalha. Você sabe, você me entende...